Treinamento sem assistência técnica não benefícia pequeno produtor
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Estudo do Climate Policy Initiative aponta que só a conjugação de cursos com consultoria ajuda produtores.
As discussões sobre uma assistência maior para o pequeno produtor e para a agricultura familiar entraram no foco do novo governo.
Esses programas específicos estariam dentro de políticas de um ministério para o setor. Com ou sem a criação de um novo ministério, estudo feito pelo CPI (Climate Policy Initiative), filiado à PUC do Rio, mostra que políticas públicas voltadas para os pequenos produtores são necessárias e dão resultados.
O CPI avaliou os impactos de cursos de curta duração e de assistência técnica oferecidos pelo Projeto ABC Cerrado.
Esse projeto é uma iniciativa do governo federal que conta com US$ 23 milhões para extensão rural, com o objetivo de adotar técnicas de manejo sustentáveis na recuperação de pastagens degradadas.
O resultado apontou que os pequenos produtores têm pouco aproveitamento dos treinamentos teóricos. Associados a uma assistência técnica, no entanto, esses treinamentos trazem bons resultados.
Priscila Souza, coordenadora de Avaliação de Política Pública de Instrumentos Financeiros do CPI/PUC, diz que o pequeno produtor tem alguns entraves, vindos tanto da parte de conhecimento como da financeira.
Entre as dificuldades estão escolaridade, capacidade de aprendizado, acesso a crédito e receio de endividamento.
Quando o treinamento vem associado a uma assistência técnica, no entanto, ele resulta em melhor aproveitamento e aumento de produtividade.
Já o grande produtor tem um bom aproveitamento do treinamento e maior facilidade para colocá-lo em prática, até porque muitas vezes é um técnico especializado da fazenda que participa do curso.
Além da compreensão maior, o grande produtor já dispõe de informações e de equipamentos para uma mudança de manejo em sua propriedade, sem a necessidade de uma assistência técnica de fora.
Diante disso, a coordenadora diz que há espaço para racionalizar o uso de recursos públicos e tornar as políticas públicas mais efetivas.
A administração de cursos é mais barata e pode ser oferecida a todos os perfis de produtores. Já a assistência técnica, mais custosa, pode ser dirigida ao pequeno produtor, que tem mais dificuldades em colocar em prática os ensinamentos.
Com isso, abre-se um caminho para facilitar a expansão de projetos de extensão rural e maximizar o impacto positivo sobre o uso da terra, segundo o estudo do CPI.
O custo de um treinamento no projeto fica, em média, em R$ 1.100 por produtor. Já o de assistência técnica sobe para R$ 5.700.
Priscila destaca que é importante esse incentivo e a recuperação das áreas de pastagens no Brasil. Atualmente, pelo menos 52% dessas áreas têm algum estágio de degradação.
A melhora das pastagens aumenta a produtividade, encurta a idade de abate dos animais, traz mais renda ao produtor, reduz os impactos ambientais e desmata menos.
O produtor já tem consciência de que a derrubada das florestas só traz lucro para os infratores, e que a agricultura só perde, devido à ocorrência de variações climáticas bruscas, como seca ou excesso de chuva.
Pastagem recuperada gera mais carne, melhora a segurança alimentar e reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa, diz Priscila.
Para Wagner Oliveira, analista do CPI, a recuperação da pastagem exige uma boa avaliação. Cada caso é um caso, e devem ser levados em consideração o tipo de solo, a região, o clima e a variedade de plantas mais adequadas.
O estudo envolveu 741 produtores, e 72% deles possuíam uma área menor do que quatro módulos fiscais (os módulos variam de tamanho, dependendo da região do país).
Os pequenos produtores, com a ajuda da assistência técnica, conseguem recuperar cinco hectares, uma área que é ampliada ano a ano. O estudo considerou que os pequenos produtores têm uma propriedade de até cem hectares.
Conforme o estudo, entre os produtores com uma área superior a cem hectares, 76% completaram o ensino médio, acima dos 68% que detêm menos de cem hectares.
Com relação a maquinários, 79% dos grandes produtores possuem tratores e outros implementos agrícolas, enquanto o percentual dos menores é de 60%. Com relação à contratação de crédito rural, a relação é de 68% para os grandes e de 54% para os pequenos (Folha de S.Paulo, 30/11/22)