08/07/2020

Trigo: Análise Agromensal Cepea/Esalq/USP Junho/2020

RS: implantação das primeiras lavouras de trigo na Região Sul ...

O mercado doméstico segue operando com volume restrito de trigo em grão. Em algumas praças levantadas pelo Cepea, como em Ponta Grossa (PR), colaboradores do Cepea relatam falta da matéria-prima. Nesse cenário, os preços do cereal continuaram firmes em junho.

 

No acumulado do mês (de 31 de maio a 30 de junho), no mercado de lotes, as altas nos preços foram de 2,5% no Rio Grande do Sul e de 1,9% em Santa Catarina. Já no Paraná, as cotações caíram 3,1% e em São Paulo, 2,9%. No mesmo período, o preço do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) avançou 5,1% no estado gaúcho e de 1,8% no catarinense, mas caiu 6,1% no paranaense.

 

Quando comparadas as médias mensais de maio e junho, notam-se quedas de 1,5% no Paraná e de 2,1% em São Paulo. Já no Rio Grande do Sul, a média de junho foi 6% superior à de maio e, em Santa Catarina, o avanço foi de 6,5%. Os elevados valores do trigo no mercado interno estimularam duas ações importantes na cadeia produtiva.

 

De um lado, visando reduzir o custo para a população em geral, o governo liberou a importação de 450 mil toneladas de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC). Os baixos estoques no Mercosul e o avanço da colheita do trigo de inverno no Hemisfério Norte favoreceram essa medida.

 

Segundo os resultados preliminares da Secex, até a quinta semana de junho, as compras externas de trigo apresentavam média diária 6,5% inferior (20,6 mil toneladas) à de junho de 2019 (22,1 mil toneladas). No campo, os preços elevados atraíram produtores, que irão aumentar a área com a cultura nesta temporada.

 

Dados da Conab apontam que a área estimada será de 2,18 milhões de hectares, 6,7% acima da temporada anterior. A produção pode somar 5,7 milhões de toneladas, 10,4% a mais que a da safra anterior. Segundo levantamento da Seab/Deral, no Paraná, maior produtor nacional, as estimativas de produção foram elevadas para 3,672 milhões de toneladas, contra 3,537 milhões de toneladas no relatório anterior. Sobre a temporada passada, se os dados se confirmarem, o acréscimo na oferta seria de expressivos 71,5%.

 

A área plantada no Paraná deve ser de 1,13 milhão de hectares, ante 970,8 mil ha em 2019, crescimento de 16,4%. A oferta só se confirmará se o rendimento chegar a 3,25 t/ha, contra 2,21 em 2019, ou seja, caso aumente 47,4%.

 

Para o Rio Grande do Sul, conforme a Emater, a expectativa de produção na safra de inverno é de 2,969 milhões de toneladas em 2020. Os principais grãos de inverno (trigo, cevada, canola e aveia branca) devem ocupar uma área de 1,3 milhão de hectares, contra 1,13 milhão de hectares na safra anterior.

 

Em relação ao trigo, estima-se produção de 2,19 milhões de toneladas e cultivo de 915,7 mil hectares, 20,34% a mais do que na safra passada (760,9 mil hectares).

 

DERIVADOS

De maio para junho, as cotações médias de todas as farinhas subiram. No geral, no entanto, a liquidez diminuiu, principalmente no caso das farinhas para panificação. Os impactos da covid-19 ainda pressionam o setor das padarias, um dos mais afetados.

 

Quanto aos farelos, a procura segue aquecida no Sul do País, especialmente para ração, devido ao clima mais frio e à piora dos pastos. Em junho, as cotações das farinhas destinadas a bolacha doce, massas frescas, bolacha salgada, integral, pré-mistura, massas em geral e panificação subiram 6,6%, 4,8%, 3,0%, 2,8%, 2,8%, 2,5% e 2,3%, respectivamente, frente ao mês anterior. Para os farelos, houve valorização de 9,5% para o a granel e de 5,5% para o ensacado.

 

PREÇOS INTERNACIONAIS

Considerando-se as médias de maio e junho, os primeiros vencimentos do trigo Soft Red Winter, negociados na CME Group (Bolsa de Chicago), e do Hard Red Winter, na Bolsa de Kansas, se desvalorizaram 3,5% e 5,1% respectivamente, a US$ 4,9730/bushel (US$ 182,72/t) e a US$ 4,4372/bushel (US$ 163,04/t) em junho. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial deve atingir recorde em 2020/21, de 773,434 milhões de toneladas, crescimento de 1,2% em relação à safra anterior (2019/20), impulsionada por países como Índia, China, Turquia e Austrália.

 

O consumo global, no entanto, deve permanecer praticamente estável frente à safra anterior, a 753,185 milhões de toneladas. Para 2020/21, o USDA estima produção de 141 milhões de toneladas para a União Europeia, contra 155 milhões de toneladas no ano anterior (2019/20). Esta oferta mais restrita torna o trigo europeu menos competitivo frente aos outros grãos.

 

A menor disponibilidade do cereal para uso em ração animal deve favorecer as exportações da UE, apesar de uma colheita substancialmente menor. As exportações de trigo da UE estão projetadas em 28 milhões de toneladas, 23,3% a menos que a temporada anterior. Todavia, a UE deve ser o segundo maior exportador de trigo mundial em 2020/21.

 

Ainda conforme o USDA, quanto aos estoques mundiais, o aumento deve ser de 1,9% frente ao relatório de maio, somando 316,089 milhões de toneladas, e a relação estoque/consumo final deve passar para 41,9%, contra 41,1% no mês anterior (Assessoria de Comunicação, 6/7/20)