20/01/2022

Trigo vai para a ração e eleva preço ao consumidor

Trigo vai para a ração e eleva preço ao consumidor

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A alta das commodities, principalmente do milho, faz a indústria buscar novas alternativas de matérias-primas.

Ainda bem que o Brasil obteve uma safra recorde de trigo neste ano, e terá de importar um volume menor do cereal, em relação à média dos anos anteriores.

As commodities subiram tanto, devido à demanda internacional, que a participação do trigo na fabricação de ração animal vem ganhando espaço no mundo, e também segurando os preços do cereal em patamares elevados.

Na safra 2021/22, pelo menos 160 milhões de toneladas do cereal serão destinados ao setor de ração no mundo, uma participação de 20,5% na produção total. Há dois anos, o volume era de 139 milhões, representando 18,3% do volume produzido.

Com isso, os estoques finais, que eram de 295 milhões de toneladas, em 2019, devem terminar essa safra em 280 milhões. A produção mundial de trigo é de 787 milhões.

Essa tendência de utilização de trigo na composição da ração se acentua também no Brasil. A Embrapa, ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e a Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) estão criando um programa específico para elevar o plantio de variedades do cereal destinadas basicamente à indústria de ração.

Os produtores, com variedades adequadas e compromisso de compra pelas indústrias, poderiam semear de 6 milhões a 8 milhões de hectares a mais no período e inverno.

O Brasil montou boa parte de seu parque industrial de produção de proteínas nos estados do Sul. A grande produção de milho, porém, foi para o Centro-Oeste, elevando os custos dos produtores de proteínas.
Além disso, os agricultores do Centro-Oeste estão descobrindo novos caminhos para a exportação de milho pelos portos do chamado Arco Norte, o que lhes garante melhor rentabilidade do que fazer o milho viajar 2.000 quilômetros para chegar aos consumidores do Sul.

Com demanda maior, o trigo mantém preços elevados no mercado internacional. Nesta quarta-feira (19), o cereal fechou em US$ 7,96 por bushel (27,2 kg) em Chicago, com alta de 3,6% em relação ao dia anterior.

No Brasil, os preços estão em patamares recordes. A tonelada de trigo custa R$ 1.675 no Paraná, 87% a mais do que há um ano. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O volume produzido no Brasil é recorde, mas o país ainda terá de importar 6,5 milhões de toneladas para garantir o consumo anual de 12,6 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

O estoque final da safra 2021/22, no entanto, estará próximo de 277 mil toneladas, abaixo do volume médio de 1 milhão dos anos anteriores.

O valor elevado do dólar, devido aos desarranjos da economia, ajuda a pressionar os preços do trigo e seus derivados no país.

Em 2021, o pãozinho subiu 12%, acima da inflação média, que foi de 9,7%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) (Folha de S.Paulo, 20/1/22)