09/01/2019

Trump alega 'crise humanitária' ao defender muro com o México

Trump alega 'crise humanitária' ao defender muro com o México

Em pronunciamento na TV, presidente dos EUA fez apelo para aprovação de verba para barreira de aço na fronteira. Queda de braço com democratas trava o Orçamento e paralisa o governo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu a construção do muro com o México em pronunciamento à Nação, no início da madrugada desta quarta-feira (9). Trump disse que há uma crise humanitária e de segurança na divisa.

O discurso de Trump, em horário nobre e em rede nacional de televisão, é uma tentativa de convencer os americanos de que o muro na fronteira com o México é fundamental para a segurança da população.

O muro entre Trump e Congresso

Trump trava uma queda de braço com os democratas no Congresso pelo financiamento do projeto do muro de mais de US$ 5 bilhões. A maioria democrata na Câmara não aprova a verba.

O impasse resultou na suspensão do financiamento de setores do governo, que afeta 800 mil funcionários federais. A paralisação parcial do governo e o congelamento de salários entrou no 19º dia.

No discurso, Trump atacou a aposição, voltou a culpar os democratas pelo 'shutdown' no governo e apelou: “quanto sangue americano terá que ser derramado até que o Congresso aprove?”.

O presidente americano convidou as lideranças do Congresso para uma reunião nesta quarta-feira, na Casa Branca.

 

Ultimato pelo muro

Do Salão Oval da Casa Branca, o presidente dos EUA fez um apelo pelo financiamento da barreira e apresentou números sobre a entrada de imigrantes ilegais e a violência na fronteira.

"Uma em cada três mulheres é sexualmente atacada na perigosa caminhada pelo México. As mulheres e as crianças são, de longe, as maiores vítimas do nosso sistema fragmentado. Esta é a trágica realidade da imigração ilegal na nossa fronteira sul."

Trump disse que os americanos também são vítimas da entrada ilegal de imigrantes.

"Todos os americanos são feridos pela imigração ilegal descontrolada"

Segundo o presidente, "300 cidadãos americanos são mortos por semana por heroína", e que 90% da droga vêm pela fronteira sul do país.

As estatísticas e os números apresentados durante o discurso são questionados pela oposição e pela imprensa. Segundo o 'New York Times', que transmitiu o pronunciamento ao vivo em seu site e confrontou as frases de Trump com serviço de checagem de fatos, alguns dados são enganosos.

De acordo com o jornal, apesar do tráfico de heroína pela fronteira sul dos EUA, outras drogas são enviadas diretamente da China por entradas legais.

Trump disse ainda que os EUA não conseguem mais acomodar imigrantes que entram ilegalmente no país. "Estamos sem espaço para segurá-los e não temos como devolvê-los de volta ao país deles", disse.

Oposição democrata

Durante o pronunciamento, Trump não declarou emergência nacional, o que lhe permitiria usar verbas destinadas a obras militares para construir o muro e driblar o impasse com o Congresso.

Imediatamente após o discurso de Trump, o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, e a presidente da Câmara Baixa, Nancy Pelosi, reagiram às declarações do presidente e exigiram que o governo fosse reaberto.

Também em rede nacional, os líderes democratas afirmaram que Trump não poderia continuar tratando os americanos como reféns.

"O presidente Trump deve parar de manter o povo americano como refém, deve parar de fabricar uma crise e deve reabrir o governo", afirmou Pelosi.

Chuck Schumer afirmou também que é favorável a mais segurança na fronteira dos EUA com o México, mas que o muro é desnecessário. "Os democratas e o presidente querem uma segurança mais forte nas fronteiras. No entanto, discordamos fortemente do presidente sobre a maneira mais eficaz de fazê-lo", disse o senador.

Tema central

Legenda: Um homem hondurenho caminha pelo topo do muro na fronteira que separa o México e os Estados Unidos, em Tijuana, no México

Trump fez da construção do muro o tema central de suas políticas de tom nacionalista. Desde a campanha eleitoral, afirma que a fronteira com o México é uma porta aberta para os criminosos, inclusive narcotraficantes, estupradores, terroristas, pessoas com doenças perigosas e falsos solicitantes de asilo.

De fato, a fronteira tem sido por anos passagem de importantes contingentes de imigrantes ilegais e de um próspero tráfico de drogas. No entanto, checadores de informação têm desacreditado as denúncias e queixas mais assustadoras, incluindo as ameaças terroristas.

Os democratas acusam Trump de inflar a "crise" e consideram que o muro é uma manobra política que não vale o dinheiro que exigiria dos contribuintes.

Além do pronunciamento desta quarta, Trump visitará a fronteira dos Estados Unidos com o México na quinta-feira (10), em mais uma tentativa de pressionar o Congresso sobre as negociações sobre o muro entre os dois países que levaram a uma paralisação parcial do governo.

'Shutdown'

Cerca de 800 mil funcionários federais foram afetados pela paralisação parcial de agências da administração do governo, o chamado 'shutdown', que ocorre desde 22 de dezembro. Essas agências estão sem recursos e os funcionários impactados sofrem com o atraso de seu pagamento.

Algumas agências de pesquisa americanas — como a Fundação Nacional de Ciência (NSF, em inglês) e até a própria Nasa, a agência espacial dos EUA, vêm sofrendo com a falta de fundos.

A paralisação ocorre porque o projeto de orçamento de algumas agências federais está travado no Congresso. Trump insiste que não assinará um projeto que não inclua a liberação da cifra bilionáriapara construir o tão questionado muro fronteiriço, que tinha prometido em sua campanha presidencial para combater a imigração ilegal.

Trump disse na sexta-feira que está "preparado" para que a paralisação orçamentária se estenda por mais de um ano, após uma reunião com os líderes democratas do Congresso para tentar alcançar um acordo (G1, 9/1/19)