02/08/2019

Trump anuncia tarifa de 10% sobre US$ 300 bi em bens da China

Trump anuncia tarifa de 10% sobre US$ 300 bi em bens da China

Expectativa de analistas é que tratativas continuem e que mercado recupere perdas iniciais com desvalorização da moeda asiática.

presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu nesta quarta-feira (1º) suspender a trégua na guerra comercial com a China e anunciar uma tarifa adicional de 10% sobre R$ 1,1 trilhão restantes em importações chinesas no país a partir de 1º de setembro.

A avaliação de analistas que acompanham as negociações é de que o presidente reverteu o cenário de boas práticas estabelecido durante a reunião da cúpula do G-20, no Japão, por avaliar que os chineses não cumpriram sua parte no acordo.

Apesar disso, ponderam, Trump não pretende encerrar as tratativas comerciais com a potência asiática e o mercado deve recuperar as perdas iniciais após o anúncio desta quarta-feira via equilíbrio fiscal, com uma esperada desvalorização da moeda chinesa.

 

"As negociações comerciais continuam e, durante as conversas, os EUA começarão, em 1º de setembro, a colocar uma pequena tarifa adicional de 10% sobre o R$ 1,1 trilhão (US$ 300 bilhões) restantes em bens e produtos vindos da China para o nosso país. Isso não inclui os R$ 957 bilhões (US$ 250 bilhões) já tarifados em 25%", escreveu Trump no Twitter.

Durante o encontro dos líderes em Osaka, no fim de junho, Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, combinaram um cessar fogo comercial em que os EUA permitiria vendas expandidas de suprimentos de tecnologia para a gigante chinesa de Huawei, enquanto os orientais comprariam produtos agrícolas americanos, como a soja, e encerrariam as vendas do opioide sintético fentanil ao país.

Os chineses, de fato, anunciaram na semana passada pelo menos cinco produtores dos EUA que estariam isentos de tarifa, mas o presidente americano disse que eles não efetivaram a medida. Em suas redes sociais nesta quarta, Trump criticou a contraparte asiática mais duramente sobre as vendas do fentanil.

"Recentemente, a China concordou em comprar produtos agrícolas dos EUA em grande quantidade, mas não o fez. Além disso, meu amigo presidente Xi disse que iria parar de vender o fentanil para os EUA --isso nunca aconteceu e vários americanos continuam morrendo!", escreveu o presidente em referência à crise dos opioides que tem assolado o país.

Especialistas nas negociações comerciai observam que o presidente americano não colocou uma condicional em seu anúncio, deixando em aberto a possibilidade de voltar atrás com a implementação das tarifas caso a China suspenda realmente a venda do opioide e passe a comprar os produtos de agricultores americanos.

O anúncio de Trump ocorreu um dia depois de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) cortar as taxas de juros pela primeira vezem mais de uma década, em uma tentativa de proteger dos riscos mundiais crescentes a expansão da economia dos EUA, incluindo as incertezas causadas pela guerra comercial com chineses.

 

Após as declarações do presidente americano, os índices acionáriosdos EUA reduziram ganhos nesta quarta e o Dow Jones passou a operar em território negativo.

 

A avaliação dos analistas, no entanto, é menos pessimista. Afirmam que a reação inicial era previsivelmente negativa, mas que a aplicação de uma tarifa de 10% sobre bens chineses deve ser olhada em perspectiva histórica.

No ano passado, quando os EUA aplicaram 10% sobre US$ 250 bilhões (R$ 957 bilhões) em bens chineses, as importações americanas não foram prejudicadas num primeiro momento. Pelo contrário, o equilíbrio do câmbio, via desvalorização da moeda chinesa, permitiu que as perdas não fossem repassadas para a cadeia de produção ou mesmo para o consumidor final.

Este ano, porém, quando as tarifas subiram para 25%, as importações chinesas nos EUA caíram 12% e o valor já pareceu disruptivo para algumas cadeias.

Dessa forma, os primeiros 10% podem ser tolerável no início, mas é preciso estar atento e observar caso haja novos desdobramentos.

Negociadores dos EUA e China encerraram dois dias de conversas em Xangai na quarta-feira com poucos sinais de progresso, embora ambos os países tenham descrito as negociações como construtivas. Uma nova rodada de reuniões entre os negociadores foi marcada para setembro.

Como mostrou a Folha em junho, a escalada da guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais abre espaço para o crescimento nas exportações de 34 produtos brasileiros ao mercado americano

As transações poderiam avançar em até US$ 4,25 bilhões dos US$ 250 bilhões de bens chineses taxados pelo governo Trump, entre eles ferro, plástico e madeira.

Hoje, o Brasil exporta US$ 1 bilhão desses mesmos produtos, ou seja, haveria oportunidade de o país elevar as vendas em pelo menos US$ 3 bilhões com a disputa entre as potências econômicas.

Enquanto as tarifas estiverem altas, o apetite da China para comprar dos EUA é cada vez menor, o que beneficia o exportador brasileiro.

Por outro lado, os chineses devem usar exatamente esse tipo de bens como moeda de troca para conseguir mais vantagens com os americanos e, com o acordo fechado, o Brasil poderia perder mercado para Washington (Folha de S.Paulo, 2/8/19)

 


Tarifas dos EUA 'não são a forma correta de resolver tensões comerciais'

Legenda: Em Bangoc, Wang Yi discursou contra o anúncio de Donald Trump 

 Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos importados do país asiático.

ministro chinês das Relações ExterioresWang Yi, criticou nesta sexta-feira, 2, a decisão do presidente americano, Donald Trump, de impor novas tarifas às exportações de seu país, um gesto que considerou "não ser construtivo". Segundo ele, a medida "não é a forma correta de resolver tensões comerciais". 

Em reunião ministerial em Bangkok, Wang declarou que "impor tarifas não é, de nenhuma maneira, um modo construtivo de resolver os atritos econômicos e comerciais".

presidente americano anunciou nesta quinta-feira, 1.º, a imposição de uma tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos importados da China. Segundo Trump, a medida entrará em vigor em 1.º de setembro e afetará mercadorias que ainda não foram alvo de ação similar dos americanos. Com a decisão, todos os produtos exportados pela China para os Estados Unidos passam a ser taxados, com tarifas que vão de 10% a 25%.

Ainda assim, Trump disse que espera "continuar com nosso diálogo positivo com a China para um acordo comercial" e afirmou "sentir que o futuro entre nossos dois países vai ser muito brilhante".

China voltou atrás sobre acordo

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, defendeu nesta sexta o anúncio de novas tarifas do seu país a produtos chineses e recriminou Pequim por ter voltado atrás de um princípio de acordo fechado na última rodada de negociações.

"Durante décadas, a China tem se aproveitado do comércio à custa dos EUA e de outros países na Ásia. Isto tem que acabar. O presidente Trump diz que vai regular isso. E regulá-lo requer determinação", disse Pompeo em Bangcoc (O Estado de S.Paulo, 2/8/19)