31/07/2019

Trump diz que vai trabalhar para acordo comercial com Brasil

Trump diz que vai trabalhar para acordo comercial com Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira que buscará um acordo de comércio com o Brasil, sugerindo que um relacionamento amigável com o presidente Jair Bolsonaro poderia ajudar a reduzir as barreiras comerciais entre as duas maiores economias das Américas.

“Vamos trabalhar em um acordo de livre comércio com o Brasil”, disse Trump a jornalistas na Casa Branca, sem dar detalhes.

Trump levantou a possibilidade de um acordo comercial enquanto o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, se dirigia a líderes empresariais em São Paulo antes de uma reunião com Bolsonaro em Brasília, na quarta-feira.

Os Estados Unidos e o Brasil, que trocaram mais de 100 bilhões de dólares em bens e serviços no ano passado, se aproximaram desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro, depois que a campanha do ex-capitão do Exército teve a de Trump como modelo.

“O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles cobram um monte de tarifas, mas para além disso nós amamos o relacionamento”, disse Trump a repórteres, citando o que chamou de ótimo relacionamento com o Brasil e elogiando Bolsonaro.

O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, disse à Reuters que o Brasil tem um objetivo ambicioso na sua relação com os Estados Unidos a fim de facilitar o comércio e aumentar o investimento entre os dois países, especialmente em infraestrutura. [nL2N24V0ZV]

Mas o secretário lembrou que, pelo fato de o país integrar o Mercosul —uma união aduaneira—, uma discussão sobre acordo comercial envolvendo tarifas tem que ser feita entre o bloco e os EUA.

Já o secretário de Comércio dos EUA disse que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE), fechado no começo do mês passado, deve evitar “pílulas de veneno” que obstruiriam um possível acordo norte-americano.

“É importante não colocar barreiras no caminho de um acordo de livre comércio entre os EUA e o Brasil que inadvertidamente possam ser criadas na transação entre o Mercosul e a UE”, disse Ross a jornalistas em São Paulo. “Temos questões sobre padrões em automóveis, produtos farmacêuticos, produtos químicos, alimentos e várias áreas.”

Os setores agrícolas no Brasil e nos Estados Unidos já enfrentaram desacordos, incluindo uma disputa sobre os subsídios ao algodão solucionados na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2014.

Os Estados Unidos ameaçaram impor tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e de vários outros países no ano passado, como parte da agenda “América Primeiro” de Trump, antes de concederem isenção permanente ao Brasil.

Neste ano, os brasileiros pressionaram por um maior acesso ao mercado de açúcar dos EUA enquanto negociavam uma potencial extensão de suas próprias restrições às importações de etanol dos EUA.

O Brasil também pressionou as autoridades norte-americanas para suspender a proibição de 2017 de novas importações de carne bovina brasileira (Reuters, 30/7/19)


Brasil tem objetivo ambicioso em negociações com EUA, diz secretário

O Brasil tem um objetivo ambicioso na sua relação com os Estados Unidos, afirmou nesta terça-feira o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo (Foto), ressaltando que o país quer avançar tanto em acordo envolvendo tarifas como em temas não tarifários.

Após o encontro que será realizado nesta quarta-feira entre autoridades do governo Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, em Brasília, a equipe econômica quer estabelecer marcos temporais para o que será possível fazer nos próximos seis meses em áreas como infraestrutura, investimento e facilitação de negócios, disse Troyjo, em entrevista à Reuters.

“Acho que vai sair dessas conversas um cronograma conjunto para examinar essas coisas todas”, disse.

“Principal interesse do Brasil é a expansão e melhoria do seu intercâmbio econômico e comercial com os EUA. São as duas maiores democracias do Ocidente, mas têm comércio bilateral muito aquém do seu potencial.”

Mais cedo, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que sua administração vai buscar um acordo de livre comércio com o Brasil.

“O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram um monte de tarifas, mas, fora isso, nós amamos o relacionamento”, disse Trump a repórteres nesta terça, quando também elogiou Bolsonaro.

O secretário lembrou que, pelo fato de o país integrar o Mercosul —uma união aduaneira—, uma discussão sobre acordo comercial envolvendo tarifas tem que ser feita entre o bloco e os EUA.

Mas ele chamou a atenção para a “conexão e coincidência de propósitos” hoje existente entre Bolsonaro, Trump e o presidente da Argentina, Mauricio Macri.

“Essas boas relações entre o presidente Bolsonaro e o presidente Macri foram fundamentais pra gente concluir o acordo com a União Europeia”, disse ele, a respeito do acordo de livre comércio que foi fechado pelo Mercosul no fim de junho após negociações iniciadas há 20 anos.

“Os três presidentes —Bolsonaro, Macri e Trump— querem também melhorar as relações econômicas e comerciais entre o Mercosul e os Estados Unidos. Então a gente tem essa conjuntura que é muito favorável”, completou.

Colaborando para o que vê como janela de oportunidade, Troyjo destacou a vigência de uma espécie de aval conferido pelo Congresso norte-americano à Casa Branca para que o presidente dos EUA possa negociar acordos comerciais envolvendo tarifas que não sejam bilaterais. A chamada Trade Promotion Authority (TPA) vai até junho de 2021.

“O bacana de você ter um objetivo ambicioso é que seu objetivo é tão maior que você consegue resolver (no caminho) questões supostamente mais específicas”, frisou Troyjo.

“Vistos para homens de negócios, acordos de bitributação, comércio eletrõnico, comércio de bens digitais — tudo isso você consegue avançar mais se você tem esse objetivo maior adiante”, finalizou ele, a respeito dos temas que estão no radar do governo.

PENDÊNCIAS COMERCIAIS

Em fevereiro, antes da visita de Bolsonaro aos EUA, a administração Trump pediu ao Brasil a suspensão de uma tarifa de 20% aplicada às importações de etanol que superem 150 milhões de litros por trimestre.

Em contrapartida, a indústria de açúcar brasileira pediu a liberação de tarifas de importação estipuladas por Washington. O Brasil conta apenas com uma pequena cota de açúcar para exportação aos EUA com taxa mais baixa.

Em meio a irregularidades no setor frigorífico brasileiro identificadas pelos norte-americanos, os EUA suspenderam as importações de carne in natura do país, em 2017.

Na viagem do presidente Bolsonaro a Washington, em março, havia a expectativa de que as exportações de carne in natura do Brasil para os EUA pudessem ser retomadas, o que acabou não acontecendo.

Em meio às negociações, um acordo entre EUA e Brasil foi firmado para o estabelecimento de uma cota sem tarifa de importação de trigo produzido fora do Mercosul, algo que ainda não foi regulamentado (Reuters, 30/7/19)


Acordo EUA-Brasil depende de desfecho com UE, diz secretário americano

Wilbur Ross recomenda que Brasil veja se não há 'pílula com veneno' no texto final acertado com europeus.

Um acordo de livre-comércio entre o Brasil e os Estados Unidos não pode destoar de aliança do Mercosul com europeus, disse o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, em evento da Amcham (Câmara americana de Comércio para o Brasil) nesta terça-feira (30).

“É importante que nada nesse acordo [com europeus] seja contraditório com um acordo com os EUA. Por exemplo, nós temos questões com a UE sobre padrões no setor automotivo, farmacêutico e alimentício”, disse o secretário.

Ross alertou também sobre possíveis armadilhas em resolução fechada com a UE (União Europeia).

 

“Tomem cuidado antes de acertar o acordo para ter certeza que não há nenhuma ‘pílula com veneno’ nela”.

Ainda segundo o secretário, a discussão sobre um livre-comércio com os EUA só vai começar após os países avançarem em outros pontos.

“Desde a visita de Bolsonaro a Washington, nós nos movimentamos nessa direção [de um acordo]. Mas há questões antes disso. Nós nunca finalizamos um acordo bilateral de investimento. Então há muito o que se fazer no diálogo comercial antes do livre-comércio”, disse o secretário.

Nesta terça-feira o presidente americano, Donald Trump, anunciou que vai trabalhar por um acordo comercial com o Brasil

"Vamos trabalhar em um acordo de livre-comércio com o Brasil", disse Trump a repórteres na Casa Branca sem dar mais detalhes.

Apesar da sinalização, corroborado pelo secretário americano, ainda não há previsão de quando isso deva ocorrer.

“Um acordo assim tem milhares e milhares de páginas e pode levar muito tempo para ser feito. O importante é que o Brasil e nós já temos demonstrado nossos propósitos”, disse Ross.

No evento desta terça-feira, a câmara americana entregou ao secretário o documento "Brasil-EUA: 10 propostas para uma parceria mais ambiciosa".

Entre as medidas defendidas para aprimorar a relação comercial Brasil-EUA está o acordo gradual de livre-comércio entre os países.

A proposta da Amcham para uma parceria comercial, no entanto, deixará para um segundo momento a questão tarifária.

De acordo com o documento, a ideia do acordo comercial é focar inicialmente em negociações de facilitação de comércio eletrônico, serviços, compras públicas, investimentos, barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias.

Um acordo com tarifas foi defendido pelo presidente da Fiesp(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, na segunda-feira (29), após encontro com o secretário americano.

"Temos que ter, sim, um acordo de livre-comércio, incluindo as tarifas. Pode ser discutido e ter um cronograma, mas tem de ter tarifa", afirmou Skaf na ocasião.

Outra medida do programa é voltar a trabalhar em um acordo para evitar a bitributação de lucros, dividendos e royalties. 

O apoio do governo americano para o processo de adesão do Brasil à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) também foi colocado como medida para estreitar a parceria entre os países.

Propostas para avançar nos temas de propriedade intelectual, entrada de executivos brasileiros nos EUA e práticas regulatórias também estão presentes no documento.

ACORDO ESPECIAL, 5G E INFRAESTRUTURA

Durante o evento, o secretário americano também disse que o Brasil deveria ter um papel mais importante no espaço devido sua localização geográfica. 

Ele afirmou que uma cooperação entre os brasileiros e os americanos nessa área também deve ser trabalhada.

“Assinamos um acordo entre a NASA e a agência especial brasileira para o lançamento de um satélite em 2020.”

Depois de quase 20 anos de negociação, os países concluíram em março deste ano as tratativas para o novo acordo de salvaguardas tecnológicas, que permite o uso comercial da base de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites, mísseis e foguetes.

 

A base maranhense é visada porque fica próxima à linha do equador e permite economia no consumo de combustível nos lançamentos.

Ao comentar sobre questões de inovação, o secretário também sinalizou que a parceria entre os países pode avançar na questão da tecnologia 5G.

“Isso tem um poder de transformar a forma como as pessoas vivem e como as empresas funcionam, mas também tem um poder muito perigoso, se as redes não tiverem segurança.”

O 5G é a quinta geração das comunicações móveis, conhecida como "a internet das coisas" por oferecer velocidades muito superiores às atuais para a interconexão de tudo o que a tecnologia permitir. 

China e Estados Unidos disputam a primazia deste mercado. Em maio, o governo de Donald Trump subiu um degrau na guerra comercial com Pequim ao colocar a Huawei (uma das empresas mais fortes com essa tecnologia) numa lista de empresas que não podem comprar equipamentos americanos.

Aportes americanos na infraestrutura brasileira também entrou em debate.

Durante coletiva de imprensa após o discurso de Ross, a presidente-executiva da câmara americana, Deborah Vieitas, disse haver “interesse muito grande dos EUA” por esse segmento.

O assunto já havia sido abordado na segunda-feira (29) pelo presidente da Fiesp em encontro com o secretário. Segundo Skaf, ele teria alertado que os americanos não estiveram presentes nos últimos leilões e que haveria novas oportunidades (Folha de S.Paulo, 31/7/19)