28/10/2021

Um ano de custos agrícolas elevados, que podem repetir-se em 2022

Um ano de custos agrícolas elevados, que podem repetir-se em 2022

APLICACAO DE FERTILIZANTE Imagem Plant Defender

Fertilizantes e defensivos foram os insumos que mais pesaram no bolso do produtor, segundo a CNA.

O produtor agrícola já não estava acostumado com custos de produção tão elevados como os deste ano. O pior é que essa pressão deverá continuar no próximo.

Alta dos insumos, clima desfavorável e incidência maior de pragas foram os destaques em quase todas as regiões produtivas do país. Os preços dos produtos, porém, foram favoráveis.

Os fertilizantes, que dobraram de valor nos nove primeiros meses deste ano, foram os que mais pesaram no bolso dos produtores.

Elevação mundial da demanda, redução na oferta e desacertos internacionais na rede logística puxaram os preços de alguns insumos para patamares não vistos há uma década. O cloreto de potássio, por exemplo, subiu 153% no ano.

Essa pressão nos custos de produção foi constatada pelo projeto Campo Futuro, que acompanha os preços dos insumos em 40 atividades agropecuárias. A iniciativa é da CNA e do Senar, junto com universidades e entidades ligadas ao agronegócio.

Além dos fertilizantes, a pesquisa constatou uma alta acentuada nos preços dos defensivos agrícolas. A liderança neste segmento foi do glifosato, que ficou 127% mais caro para o agricultor.

O setor agrícola foi marcado também por uma severa seca, que comprometeu as lavouras de café, reduzindo a produção do tipo arábica em 10%. Outra cultura bastante afetada foi a do milho, cuja produção ficou 20 milhões de toneladas a menos do que era projetada inicialmente.

Todas as culturas, de uma forma ou de outra, foram afetadas pela elevação de custos e pelo clima adverso. Algumas, porém, não tiveram grandes perdas no volume produzido e foram recompensadas pelo preço.

O custo operacional efetivo da soja na safra que terminou foi 17% superior ao da anterior, mas a produtividade aumentou 9%, e os preços, 47%.

No caso do milho, o principal gasto na primeira safra foi com o controle de pragas, que custou 26% a mais, segundo a CNA. Na safrinha, o atraso no plantio, seca e geadas reduziram a produtividade em 39%. A queda na oferta do cereal, porém, segurou os preços elevados e garantiu um aumento de 2,7% na receita bruta.

 O feijão também não ficou isento da alta de custos, que foi de 7% na primeira safra, principalmente devido aos fertilizantes. A produtividade no setor caiu 21%, mas o preço médio subiu 39%.

Os custos operacionais do arroz e do trigo sofreram alta de 34% e 24%, respectivamente. Os dois cereais, no entanto, obtiveram produtividades maiores e sustentação de preços, o que garantiu boas margens.

Os produtores de café arábica tiveram evolução de 15% nos custos operacionais nesta safra. No caso do café conilon, a alta foi de 31%. Menor oferta mundial do produto garantiu elevação dos preços.

Os custos da cana-de-açúcar subiram 27% na região centro-sul. O setor chegará ao final de ano, no entanto, com resultados positivos, devido à acentuada aceleração nos preços do açúcar e do etanol.

A pecuária de corte e de leite teve reajuste médio de 15% nos custos, mas a demanda elevada puxou os preços do setor para cima. Na avicultura e na suinocultura, os maiores gastos vieram da mão de obra e da energia elétrica.

Essa pressão de custos poderá se acirrar ainda mais no próximo ano. Um dos pontos positivos para os produtores é que a demanda mundial continuará aquecida, segurando os preços.

É bom esperar pelo melhor, mas não deixar de se prevenir de uma eventual piora do cenário (Folha de S.Paulo, 28/10/21)