31/08/2020

Um produtor tentou, em vão, fazer pecuária na Amazônia mais sustentável

Legenda: Mauro Lúcio Costa, 54, é pecuarista, consultor e ex-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas (PA) - Rogério Albuquerque/Agência O Globo

 

O desejo de Mauro Lucio Costa era fazer a coisa certa pela maior floresta tropical do mundo.

Por décadas, o pecuarista de terceira geração da região Norte do Brasil acompanhou com culpa sua indústria, que alimenta o crescente apetite global por carne bovina, devastando a selva cada vez mais.

Aos poucos, passou a experimentar técnicas de pastagem que hoje fazem de sua fazenda uma das mais eficientes do país, tornando-se um modelo para quem acredita que a carne bovina pode ser produzida de forma lucrativa e sustentável —até mesmo na Amazônia.

Como uma chamada “fazenda de terminação”, a propriedade de Costa é a última parada feita pelo gado em uma cadeia que começa com os criadores de matrizes e frequentemente inclui estadias em diversas outras fazendas antes que os animais estejam desenvolvidos e prontos para o abate.

Desejando fazer mais —e também incentivar outros membros da indústria rumo à sustentabilidade—, em 2017 Costa decidiu comprar gado apenas de criadores que pudessem provar que não atuavam em áreas desmatadas ilegalmente. Ele pediu a um consultor para que verificasse sinais de desmatamento em propriedades de fornecedores, utilizando mapas de satélites e uma lista de propriedades embargadas pelo governo.

Mas depois de apenas um ano, seu esforço falhou.

Costa percebeu que quase metade de seu gado vinha de fornecedores com histórico de violações ambientais ou cujos títulos de propriedade e outros documentos eram tão questionáveis que não era possível chegar a uma certeza. Para que cumprir seu plano, segundo Costa, ele não conseguiria manter o tamanho da criação e produzir carne suficiente para obter lucro.

“Não posso sabotar meu negócio por algo que ninguém mais faz”, disse Costa à Reuters, cercado por pastagens emolduradas pela floresta tropical. Um chapéu Resistol de aba larga, lembrança de viagens ao Texas, protegia seu rosto do sol. A fivela de seu cinto em alto relevo, também texana, brilhava com seu nome e o de sua fazenda —Marupiara, termo indígena que significa algo como “lugar de caça feliz”.

A confissão, de um fazendeiro tão “verde” que se dirigiu aos participantes de uma conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) no ano passado, ilustra as dificuldades para o desenvolvimento responsável na floresta amazônica.

A tentativa de Costa foi coberta por empecilhos que há muito impedem a ordem na vasta e indisciplinada região —dos registros de terras controversos à aplicação pouco rígida da lei, passando pelo funcionamento obscuro da indústria de carne bovina brasileira, na qual o gado, com pouco ou nenhum monitoramento governamental ou do setor, é criado e engordado em uma série de propriedades.

Dessa forma, pode ser impossível para pecuaristas como Costa saber ao certo de onde seus animais vieram.

Em muitos outros grandes países produtores, como os Estados Unidos, o gado circula menos, vivendo mais tempo em uma só fazenda e sendo alimentado, em geral, com grãos e rações preparadas. Mas no Brasil, o gado continua sendo alimentado principalmente com pasto, fazendo com que mais áreas sejam utilizadas e levando fazendas a se especializar em etapas específicas do desenvolvimento dos animais.

Embora a lei brasileira —em teoria— considere crime a criação de bovinos em áreas desmatadas ilegalmente, há poucos mecanismos que ajudem os compradores a identificar a origem dos animais. Assim como o dinheiro, o gado muitas vezes é “lavado”, passando de pastagens que violam as leis ambientais para a cadeia legal de oferta, e em seguida para os supermercados e mesas de todo o mundo.

“Há um buraco enorme no sistema”, afirmou Paulo Barreto, um dos principais pesquisadores de uso de terras na Amazônia. “Nenhuma processadora de carnes pode afirmar que seu gado é livre do desmatamento.”

A Amazônia, uma floresta maior que a Europa Ocidental, é um espaço natural fundamental no combate às mudanças climáticas. Trata-se de uma das mais importantes fontes de água doce do mundo, com uma vegetação importante para o combate dos gases de efeito estufa.

Apesar de mais de 80% da Amazônia original ainda estar de pé, o desmatamento ganhou força nos últimos anos, à medida que madeireiros, produtores de soja e pecuaristas, estimulados pela faminta demanda global, invadem e queimam áreas cada vez mais profundas da floresta tropical.

Além de as forças do mercado alimentarem a devastação, o presidente Jair Bolsonaro ainda reverteu políticas antidesmatamento, reduzindo os orçamentos de agências que lutaram por décadas contra o desflorestamento não autorizado.

Encorajados pelas mudanças, no ano passado brasileiros derrubaram e queimaram uma área da floresta tropical equivalente ao tamanho do Líbano, no maior nível de desmatamento em mais de uma década. Neste ano, os dados sugerem que o desmatamento e as queimadas na Amazônia continuam em ritmo acelerado.

No meio disso, a indignação internacional aumenta.

A VF Corp, empresa norte-americana dona de marcas como Vans, Timberland e The North Face, anunciou no ano passado que deixaria de comprar couro do Brasil. Em maio, supermercados britânicos ameaçaram boicotar os produtos brasileiros. Em junho, um grupo de grandes investidores europeus afirmou que considera desinvestir de suas participações no Brasil, incluindo em títulos do governo, se o Bolsonaro não mudar os rumos.

Ele prestou pouca atenção.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu em abril que o Brasil aproveitasse a distração do mundo com o coronavírus para acelerar a desregulamentação de leis florestais.

“Então para isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas... Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação”, disse Salles no vídeo de uma reunião ministerial.

No ano passado, após uma conferência climática em Madri, ele tuitou a foto de um grande bife mal passado, brincando que estava compensando as emissões de carbono da reunião com “um almoço vegetariano”. Quando questionado por parlamentares, ativistas ambientais e pela imprensa sobre os comentários na reunião ministerial, Salles disse em um comunicado que sempre apoiou a desregulamentação “com bom senso” e “dentro da lei”.

O ministrou declinou um pedido da Reuters por comentários.

Antes limitados em grande parte às pastagens do Sul, os pecuaristas utilizaram os avanços genéticos para criar o gado que resiste melhor ao calor equatorial.

Nas últimas décadas, os produtores brasileiros avançaram para o norte, criando o maior rebanho bovino do mundo, hoje com cerca de 215 milhões de animais. Eles também se tornaram os maiores exportadores de carne bovina do mundo, controlando cerca de 20% do mercado global de exportações e vendendo quase 2 milhões de toneladas por ano para países como China, Rússia e Egito.

Algumas grandes multinacionais brasileiras, incluindo JBS, Minerva e Marfrig, são responsáveis pela maior parte desses embarques. Mas esses frigoríficos, que fornecem proteínas a enormes varejistas, obtêm a carne de uma grande e desigual variedade de fornecedores, que vai das pequenas propriedades familiares aos pecuaristas mais sofisticados, como Costa.

A indústria brasileira é reconhecida mundialmente por políticas sanitárias rígidas e pela carne de alta qualidade, mas tem enfrentado dificuldades para cumprir as leis ambientais de seu próprio país.

Em 2009, procuradores ameaçaram identificar e processar empresas que adquirem carne de pastagens ilegais. Os grandes frigoríficos, em resposta, começaram a usar imagens e dados de satélite para rastrear melhor seus fornecedores.

O desmatamento desacelerou.

Mas os dados mostravam apenas as terras cultivadas pelo vendedor direto e imediato, não as pastagens frequentadas anteriormente pelo gado. Como não existe um sistema unificado para monitoramento das transferências de gado entre propriedades, ir além se provou impossível.

JBS, Minerva e Marfrig, empresas de capital aberto com operações em vários de países, disseram à Reuters reconhecer o problema dos chamados “fornecedores indiretos”, acrescentando que a indústria e os órgãos reguladores precisam trabalhar juntos para solucioná-lo.

Pouco antes de Bolsonaro ser eleito, em 2018, o governo brasileiro redigiu um acordo voluntário com os principais frigoríficos e varejistas para desenvolver um mecanismo de monitoramento mais rígido. O plano, que não havia sido noticiado anteriormente e foi visto pela Reuters, utilizaria um sistema já existente de licenças de transporte de gado para rastrear a movimentação dos animais.

“O Ministério do Meio Ambiente se compromete a desenvolver um sistema computadorizado para verificar a procedência do gado e a preservação da vegetação nativa”, indicava o esboço.

Mas o ministério engavetou o projeto após a vitória de Bolsonaro, segundo três pessoas familiarizadas com a decisão. “Realmente poderia ter feito a diferença”, disse Juliana Simões, uma das fontes e ex-membro do ministério, que liderou o projeto.

O ministério se recusou a responder às perguntas da Reuters sobre o projeto, afirmando apenas que “apoia o conceito de rastreabilidade na agricultura”.

“TERRA SEM HOMENS”

Durante a maior parte de sua história, a Amazônia foi considerada um “inferno verde”, denso e inóspito para quase qualquer pessoa além dos povos indígenas que já habitavam a região. Exceto por assentamentos isolados ao longo do curso dos muitos rios da área, os colonizadores e primeiros governos do Brasil fizeram poucas buscas pelo desenvolvimento local.

Na década de 1970, a ditadura militar decidiu construir estradas e promover a migração para a Amazônia, por meio de empréstimos baratos para a ocupação de terras. “Terra sem homens para homens sem terras”, dizia o slogan do governo.

Costa, hoje com 55 anos, viajou à Amazônia pela primeira vez quando seu pai, também fazendeiro, obteve um empréstimo governamental para uma área no Pará. A princípio, a família continuou morando no Sul, viajando ocasionalmente para o Estado nortista, onde um jovem Costa observou seu pai “limpar” a selva ajudado por trabalhadores e com o uso de motosserras.

Aos 17 anos, Costa se mudou definitivamente para o Pará, onde trabalhou por um período na fazenda do pai, mais tarde arrumando empregos em outras propriedades e em um abatedouro. Paragominas, a cidade mais próxima, era tão violenta que passou a ser conhecida como “Paragobala”. A fazenda não possuía eletricidade, as estradas e a floresta ao redor eram perigosas.

“Eu chorava quase todo dia”, recorda Costa.

Logo ele conheceu a filha de um fazendeiro. Eles se apaixonaram, casaram-se e formaram uma família.

Outros milhões de brasileiros também migraram para a Amazônia. Garimpeiros e grileiros tomaram posse de terras sem títulos, forjando documentos e outras licenças que ainda fazem da região um amontoado de conflitos de terra e incertezas jurídicas. No final da década de 1980, o desmatamento na Amazônia se tornou uma questão central no movimento ambientalista moderno.

Por toda parte, Costa viu desperdício.

Depois que os madeireiros derrubam a valiosa madeira, os fazendeiros os acompanham, plantam pastos e colocam o gado nos campos. Sem a flora nativa, o solo outrora rico seca rapidamente e perde nutrientes. E então os fazendeiros seguem em frente.

“As pessoas simplesmente vão cortando mais árvores”, disse Costa, enquanto passava por pastagens abandonadas na região de Paragominas. Em uma área mais profunda da floresta, ele parou perto de um grande caminhão, sem placa e cheio de madeira recém-cortada. “Tudo ilegal”, disse.

Atualmente, cerca de 70% das terras desmatadas na Amazônia são destinadas à pecuária, segundo estimativas do ecologista Daniel Nepstad. Os nove Estados que formam a Amazônia Legal respondem por 40% do rebanho do Brasil. O Pará, um Estado maior que o Texas e a Califórnia juntos, possui sozinho cerca de 10% do gado brasileiro.

O zelo de Costa pela preservação não veio do amor pela natureza, mas pelos números. Ele mantém uma grande calculadora Casio em seu escritório na fazenda, pontuando a conversa com cliques nas teclas.

Em 1997, por conta própria, ele se determinou a encontrar métodos para evitar o desperdício na pecuária de corte e queima. Por cerca de 190 mil dólares, Costa e um sócio compraram as terras que ele cultiva atualmente, perto da cidade paraense de Tailândia. Um proprietário anterior havia desmatado cerca de 7% do lote total de cerca de 4.300 hectares, mas permanecia ocioso.

Costa plantou novas gramas, fertilizou as pastagens e passou a promover a rotação do gado no pasto para otimizar os tempos de alimentação e desenvolvimento vegetal. “Até mesmo algumas horas podem fazer a diferença”, disse.

Hoje, ele cultiva cerca de 500 hectares, o equivalente a aproximadamente 700 campos de futebol, e tem grande parte de sua propriedade com mata em pé.

Apesar da riqueza ecológica que a floresta representa, a terra desmatada gera mais vendas e é considerada mais útil pelos produtores. A dinâmica desestimula a conservação, incentivando a destruição mesmo se os campos não forem usados na pecuária.

“Até meu sogro acha que eu deveria cortar mais árvores”, disse Costa. “A floresta não cria valor.”

Quando Luiz Inácio Lula da Silva se tornou presidente, em 2003, ele procurou combater o desmatamento. Seu governo criou reservas naturais, avançou no monitoramento da extração de madeira e de incêndios florestais e baniu o financiamento para fazendeiros flagrados trabalhando em áreas desmatadas ilegalmente. Quando Lula terminou seu segundo mandato, a taxa anual de desmatamento havia despencado em quase 75%.

Costa, enquanto isso, evoluiu ainda mais em suas práticas de pastagem. Ele coletou amostras do solo, analisou a química das terras e aumentou o número de gado aptos a pastar em cada hectare cultivado. E também recebeu ameaças, segundo ele, de pessoas que desprezaram sua decisão de deixar tanta floresta intacta.

“Sofri muito bullying”, afirmou. “Se você não usar, outra pessoa vai”, alertavam pessoas anônimas, em uma ameaça que não é fácil de se descartar em uma região repleta de posseiros e de disputas violentas por terras.

Ainda assim, seus métodos valeram a pena.

Atualmente, Costa cria quase quatro vezes mais cabeças por hectare do que a média do Brasil, de acordo com estatísticas do governo. Por essa métrica, se outros fazendeiros na Amazônia se tornassem tão eficientes, uma área do tamanho da França poderia ser reflorestada em terras hoje ocupadas pelo gado.

Em busca dos segredos do sucesso de Costa, como as sete variedades diferentes de gramíneas cultivadas, outros fazendeiros costumam visitá-lo, ávidos por uma espiada na caderneta preta que ele carrega. “Ele é o melhor que existe”, disse Jordan Timo, outro pecuarista e o consultor que Costa pediu que o ajudasse no rastreamento de fornecedores.

“PREGANDO NO DESERTO”

As vitórias do Brasil contra o desmatamento no início deste século duraram pouco.

O “boom” global das commodities há uma década desencadeou uma demanda maior por carne bovina e soja. A ex-presidente Dilma Rousseff, sucessora de Lula, buscou aproveitar a bonança das commodities para reviver grandes projetos de infraestrutura na região. Ela flexibilizou as regras sobre reservas naturais e foi em busca de grandes projetos hidrelétricos nos afluentes do Amazonas.

Em 2015, o boom havia diminuído, “drenando” as receitas do governo. Dilma e seu sucessor, Michel Temer, reduziram o financiamento e diminuíram os poderes do Ibama, a agência ambiental brasileira. Autoridades estaduais e municipais, pressionadas por seus próprios déficits orçamentários, tiveram dificuldades para financiar a aplicação de leis fundamentais para o monitoramento da destruição local.

O desmatamento voltou a crescer.

Após o sucesso inicial do rastreamento das ofertas, o acordo de 2009 com frigoríficos para monitorar melhor as propriedades rendeu menos progresso do que o esperado. JBS, Minerva e Marfrig afirmam que continuam monitorando as terras de seus fornecedores imediatos. Mas eles seguem incapazes de rastrear de onde esses vendedores obtêm seus animais. Frigoríficos menores, por sua vez, jamais assinaram o acordo.

Os procuradores encarregados da fiscalização ambiental afirmam que qualquer nova repressão, rastreando a carne bovina em toda a cadeia, em essência interromperia o setor no Brasil. “Você destruiria a indústria frigorífica”, disse Ricardo Negrini, procurador da República em Belém (PA). “Isso tem que ser feito gradualmente.”

Holly Gibbs, geógrafa da Universidade de Wisconsin que investigou o uso de terras pela indústria de carne bovina do Brasil, disse que somente cerca de 3% do gado do Pará e de Estados vizinhos passam a vida em apenas uma propriedade.

Os fazendeiros possuem todos os tipos de truques para desviar dos controles, incluindo a divisão de áreas em títulos separados, o que os permite criar o gado em pastagens desmatadas ilegalmente, mas depois vendê-lo como se fosse de terras aparentemente legítimas.

A indústria é tão obscura que até fazendeiros sancionados por desmatamento vendem seus animais com facilidade. Moisés Berta, pecuarista da região de Novo Progresso, foi multado pelo Ibama em 2016 por desmatamento ilegal. Ele admite que desmatou a área, mas diz que não havia outra escolha para sobreviver.

A multa faz com que sua propriedade apareça em listas usadas por grandes frigoríficos para bloquear vendedores. No entanto, Berta disse que não tem problemas para levar sua carne ao mercado por meio de intermediários ou de abatedouros menores. Mas pelo lado negativo, segundo ele, esses compradores pagam cerca de 20% menos do que as grandes empresas. “É uma situação difícil”, afirmou Berta, 61, à Reuters.

Há mais de 37 mil locais sancionados pelo Ibama por crimes ambientais nos Estados amazônicos. As multas têm como objetivo incluir áreas na “lista negra” do uso comercial até que os proprietários replantem a floresta desmatada. Mas na prática, elas não fazem muito mais do que forçar que fazendeiros como Berta caminhem para a clandestinidade.

Para o metódico Costa, a preponderância da pecuária ilegal atrapalhou seu esforço para garantir uma oferta “limpa”.

Cerca de um terço de seu gado, pelos cálculos dele, é oriundo de terras sancionadas. Outros 15% vêm de propriedades com escrituras e documentos que não condizem com os registros públicos, o que impossibilita que Costa verifique essas terras nas listas de embargo.

Em sua caderneta, a matemática esclareceu as coisas.

Para recuperar os investimentos no preparo das pastagens, todo ano Costa precisa aumentar a contagem de seu rebanho de cerca de 1.700 cabeças para 2.500 cabeças assim que o período de chuvas começa, geralmente em meados de dezembro. O momento é importante por ser quando o gado aproveita a súbita aceleração do desenvolvimento do pasto trazida pela chuva.

Se o rebanho é muito pequeno, parte da grama vai para o lixo. Se a janela for perdida, Costa precisa gastar ainda mais para comprar ração. Proibindo fornecedores de gado reconhecidos ou suspeitos de desmatamento ilegal, Costa percebeu que o rebanho não atingiria a massa necessária para “as águas”.

Em vez de seu tradicional lucro de cerca de 85 dólares por animal, Costa sofreria um prejuízo de cerca de 50 dólares por cabeça. “Simplesmente não funcionaria”, explicou.

Ele desistiu do esforço.

Como resultado, o próprio Costa desempenha um papel indireto na perpetuação de pelo menos parte da ilegalidade. Ele se sente “amarrado”, com poucas opções para mudar um sistema que o impede de trabalhar como acredita que deveria. “Eu sinto que estou pregando no deserto” (Reuters, 28/8/20)