13/10/2020

Uma classe organizada – Por Roberto Rodrigues

Uma classe organizada – Por Roberto Rodrigues

100% do algodão brasileiro exportado pode ser rastreado por meio de uma etiqueta.

O verão de 2020 promete muito calor. A primavera já está quente, imagine o que vem depois. E os brasileiros buscarão proteção contra as altas temperaturas usando roupas feitas com fibras naturais, muito mais agradáveis. Veremos nas ruas e logradouros públicos toda gente vestindo calças jeans, camisetas, shorts, blusas, saias e vestidos de algodão, bem como meias e tênis, e até mesmo paletós quando a cerimônia exigir. Em tudo está presente o algodão, que também serve para a feitura de roupas de cama, toalhas de mesa e de banho, e outros usos como cortinas e carpetes. O algodão reina absoluto.

Será que a gente se lembra disso? Que atrás de cada peça de vestuário ou de outros usos domésticos está toda uma cadeia produtiva, que começa na prancheta de um cientista desenvolvendo variedades adequadas às nossas condições de clima e solo, passa pela fabricação de equipamentos específicos (plantadeiras, pulverizadores, colheitadeiras) e pela geração de defensivos e fertilizantes sustentáveis, pelo plantio, tratos culturais, colheita e benefício até virar um tecido a ser usado nas confecções, gerando milhares de empregos rurais e urbanos? Pouco provável que nos lembremos disso, mas é assim que acontece.

 

No último dia 7 de outubro comemorou-se o Dia Mundial do Algodão em todos os países produtores dessa magnífica fibra natural. E, é claro, também no Brasil. Há inúmeras razões para celebrar aqui.

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão, atrás apenas de Índia, China e Estados Unidos. Mas somos o segundo maior exportador, sendo o primeiro os Estados Unidos, e seguidos por Índia, Grécia e Austrália.

Na safra 2019/20, que vai terminando agora, exportamos 1,95 milhão de toneladas, o que equivale a 67% da nossa produção total, que foi de 2,92 milhões de toneladas.

A China, só para variar, foi o nosso maior mercado, ficando com 31% do que exportamos. Mas a Ásia inteira é o nosso grande importador e comprou 98% do que vendemos, com destaque para Vietnã (com 15%), Bangladesh (12%), Paquistão (11%) e Indonésia (10%).

A cotonicultura ocupa 1,67 milhão de hectares, e a produtividade dessa safra chega a 1.795 quilos por hectare, uma das maiores do mundo. Mas o mais importante com relação a esta produtividade é o fato de 92% da área plantada no País estar em regiões de sequeiro, o que faz do nosso algodão o mais sustentável do mundo.

Aliás, temos 36% de participação no mercado global de algodão de origem sustentável: somos o primeiro colocado nesse importante ranking desde 2013, graças ao trabalho permanente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), que não é pequeno: nesta safra, o programa de sustentabilidade da Abrapa, chamado Algodão Brasileiro Sustentável (ABR), realizado em parceria com a suíça Better Cotton Initiative (BCI), certificou 1,248 milhão de hectares que produziram 75% de toda a safra brasileira, o que é um recorde de volume de algodão certificado.

Vale a pena referir que a BCI tem em seu conselho de administração as principais marcas mundiais consumidoras de algodão e que exigem sustentabilidade nos sistemas produtivos, como a Nike, Adidas, Ralph Lauren, Levis e H&M, entre outras. Trata-se de um grande sucesso! A produtividade das fazendas certificadas pelo ABR/BCI no Brasil é 6% maior que a média nacional comunicado pela Conab. E neste ano haverá mais um avanço: começará a certificação da segunda fase da cadeia produtiva nas usinas de beneficiamento do algodão.

Mas tem mais: 100% do algodão brasileiro exportado pode ser rastreado por meio de uma etiqueta chamada Sistema Abrapa de Identificação (SAI). Cada fardo de algodão é rastreável e basta entrar no site da Abrapa para saber, por uma sequência numérica dos fardos, a origem deles (fazenda, localização, produtor), qual algodoeira (nome, localização e contato), e dados do laboratório certificador.

Temos de fato, no Brasil, uma cotonicultura moderna e sustentável, mercê de uma cadeia produtiva organizada e uma classe bem representada (Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas; O Estado de S.Paulo, 11/1