Unica critica IPI menor para carro elétrico
A indicação dada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) de que o governo deve reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 25% para 7%, tanto para carros elétricos como para os híbridos, comemorada por fabricantes que desenvolvem essas tecnologias, não foi bem recebida pelas usinas de etanol.
Para Elizabeth Farina – Foto -, presidente da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), essa medida seria "contraditória" em relação aos objetivos do recém-sancionado RenovaBio, marco regulatório criado para elevar a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.
"Primeiro, o presidente sanciona o RenovaBio, que indica qual vai ser o papel dos biocombustíveis na matriz do Brasil até 2030, o que vai demandar retomada de investimentos em capacidade de produção. No dia seguinte, aparece nos jornais que o governo vai desonerar o carro elétrico, o que aponta na direção de reduzir a participação dos biocombustíveis. Como política pública de orientação de investimentos, é no mínimo difícil de compreender", diz Farina, que passou o último ano acompanhando as discussões que culminaram no RenovaBio.
Nada, porém, que ameace o setor, avalia. "Isso não quer dizer que vai deixar de se apostar no biocombustível, porque temos muitas vantagens em termos de custo, de domínio de tecnologia", ponderou a presidente da associação que reúne usinas responsáveis por cerca de 90% da cana processada no país.
A Unica deve continuar focada neste ano no acompanhamento do RenovaBio, que passará agora pela fase de regulamentação, com a definição das metas de emissão de gases de efeito estufa. Afinal, o grau de incentivo aos investimentos no setor sucroalcooleiro dependerá em grande parte dessas metas, segundo Farina.
A entidade também participa de outros debates. Tem feito périplos por Brasília para discutir com os ministérios as diretrizes do Rota2030, que ainda está sendo elaborado no governo para substituir o Inovar-Auto.
Desde o início das discussões a respeito do RenovaBio, setor privado e membros do governo têm defendido que deve haver um alinhamento dele com o programa para a indústria automotiva. Contudo, mesmo que o objetivo da desoneração dos carros elétricos e híbridos também seja o de reduzir emissões - que é o eixo do RenovaBio - a Unica ainda vê incongruência.
O argumento do setor é que o carro flex é uma solução "ambiental" já desenvolvida pela indústria brasileira e que tem um nível de emissões de gás carbônico menor que os veículos elétricos que rodam na Europa. O cálculo que se faz é das emissões desde a geração da energia elétrica - que na Europa depende em grande parte do carvão - até as emissões do veículo.
A realidade brasileira, porém, é diferente. Atualmente, 81% da capacidade instalada de geração de energia do país é de fontes renováveis, somando as fontes hidráulica, a biomassa, eólica e solar, segundo dados mais recentes do Ministério de Minas e Energia (MME).
Farina reconhece a diferença, mas defende que, "na margem, o crescimento da demanda por energia vai exigir participação maior de fósseis, como o gás". De fato, nos últimos leilões de contratação de energia realizados em 2017, foi alta a participação de termelétricas a gás, que estarão em operação a partir de 2021 e 2023. Com isso, a fatia dos renováveis a partir de então tende a diminuir.
"Se é para estimular o carro elétrico, tem o carro híbrido, que é elétrico. Então, para sinalizar consistência [com o RenovaBio], eu daria uma desoneração maior para o híbrido flex", defende ela.
Ainda não há veículos híbridos flex nas linhas de montagem. A única fabricante que anunciou o desenvolvimento de um modelo desses é a Toyota. Hoje, existem só seis modelos híbridos, todos de luxo, e são abastecidos apenas com gasolina (Assessoria de Comunicação, 6/2/18)