10/09/2018

Unica reclama da baixa contratação da biomassa nos leilões

Unica reclama da baixa contratação da biomassa nos leilões

Associação pede que fonte não dispute os certames com tecnologias que usem combustível fóssil.

Durante o III Congresso Internacional de Biomassa (CIBIO), evento internacional realizado esta semana em Curitiba (PR), o gerente em Bioeletricidade da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Zilmar de Souza (foto), falou sobre a baixa comercialização da bioeletricidade nos últimos leilões regulados e a falta de diferenciação entre energias limpas e poluentes nos critérios de contratação.

No último dia 31 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) promoveu o leilão A-6/2018, para atendimento ao mercado das distribuidoras a partir de 2024. Ao fim da disputa, o setor sucroenergético, que havia cadastrado 25 projetos, totalizando 1.040 MW, vendeu apenas dois, o que representará o incremento de 28,5 MW.

Para o especialista, esta baixa comercialização pode colocar em xeque o alcance das metas indicadas para a bioeletricidade canavieira no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2026). O documento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que contratação da capacidade instalada por esta biomassa deverá ser de 1.868 MW entre 2021 a 2024.

“Até o momento, o ambiente regulado [leilões], que ainda é a principal porta de entrada para a indústria da cana no setor elétrico, contribuiu com apenas 20% da expansão indicada até 2024 para a indústria sucroenergética no PDE. Mesmo desconsiderando uma expansão via mercado livre, a baixa contratação nos últimos leilões mostra que precisamos redesenhar o modelo e a forma de participação da biomassa nos certames. Isso é fundamental para estarmos aderentes ao planejamento do segmento elétrico”, comenta o executivo da Unica.

Zilmar espera que os próximos leilões regulados consigam evoluir para, no mínimo, a criação de um produto específico para a bioeletricidade produzida da cana, ou mesmo leilões regionais e específicos para esta fonte e o biogás. Segundo ele, separar a bioeletricidade de fontes não comparáveis como carvão e gás natural, idealmente dentro de uma política setorial de longo prazo, com diretrizes claras e de continuidade, é a melhor maneira de se buscar o pleno uso deste importante recurso renovável na matriz elétrica do Brasil.

“Atualmente, aproveita-se apenas 15% do potencial técnico do setor sucroenergético em geração de bioeletricidade para o sistema elétrico. Além de uma escala de produção/estrutura de custos bem diferente, colocar a biomassa da cana-de-açúcar, que é sustentável, em disputa direta com outras responsáveis por despejar toneladas de gases de efeito estufa (GEEs) por MWh, distorce gravemente a correta valoração dos atributos que cada fonte entrega ao sistema elétrico”, avalia o gerente.

Desde 2013, a fonte biomassa participa dos leilões regulados no chamado Produto Disponibilidade Termoelétrica, concorrendo diretamente com gás natural e/ou carvão mineral, sem diferenciação de atributos como o nível de emissões de GEE (Canal Energia, 6/9/18)