Usinas confirmam que vão elevar apostas no etanol na safra 2018/19
A pouco mais de um mês do início "oficial" da safra sucroalcooleira 2018/19, em abril, grandes companhias do segmento confirmaram que vão abrir a temporada dando prioridade o etanol, que já vinha ganhando espaço no "mix" das usinas na segunda metade deste ciclo 2017/18. A retomada da demanda interna nos últimos meses vem elevando os preços do biocombustível, oferecendo às usinas melhor remuneração que o açúcar.
Na temporada atual, até janeiro, 53,1% do caldo da cana processada no Centro-Sul foi destinado ao etanol, e em toda a safra 2016/17, o percentual foi de 53,7%. No ciclo 2015/16, o último com clara tendência mais "alcooleira", 59,35% do caldo da cana foi direcionado à produção do biocombustível.
Em teleconferência com analistas na semana passada, Soren Shroder, CEO da Bunge, concordou que os preços favorecem a produção de etanol na próxima temporada. "Olhamos para os preços. No momento, estamos maximizando [a produção de] etanol", disse ele.
Embora a múlti americana, que tem oito usinas no Brasil, tenha reforçado que pretende separar sua unidade sucroalcooleira, Shroder ressaltou que essa divisão registrou resultados "fortes" no ano passado. Em 2017, a Bunge produziu 1,7 bilhão de litros de etanol, volume ligeiramente superior ao registrado em 2016.
Biosev e São Martinho, que também comentaram seus resultados em teleconferências nos últimos dias, foram na mesma direção e indicaram que suas safras deverão ser muito mais "alcooleiras", embora não tenham divulgado metas.
As usinas da Biosev vão retomar a moagem de cana no próximo mês e, ao menos em março e abril, deverão maximizar a produção de etanol, disse Rui Chammas – Foto -, presidente da companhia. "O etanol é a preferência de boa parte dos consumidores [de combustíveis] desde metade do ano passado. Então tem demanda. E vemos, para ao longo da safra, uma rentabilidade melhor que a do açúcar", comentou o executivo ao Valor.
Do início da safra 2017/18 até o trimestre passado, a empresa, controlada da Louis Dreyfus Company, elevou sua produção de etanol em 7%, para 1,1 bilhão de litros.
Na São Martinho, que produziu 466 milhões de litros de etanol nos nove primeiros meses desta safra, a percepção é parecida - tanto que o volume de açúcar a ser produzido em 2018/19 cujo preço foi fixado até dezembro confirma que a postura tende a ser mais "alcooleira".
"Se a São Martinho vai para um mix mínimo de açúcar, essas fixações até dezembro, de 404 mil toneladas, equivalem a 50% do volume de exposição a cana própria", disse ao Valor Felipe Vicchiato, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa. Das quatro usinas do grupo, três produzem tanto açúcar como etanol, mas ainda estão com capacidade ociosa para o biocombustível.
"Não vimos disparadas de preços como já ocorreram no passado. Isso leva a crer em um regime de safra que, pelo menos no início, tende a ser alcooleira", afirmou o CEO da São Martinho, Fabio Venturelli.
O incremento da produção de etanol pode ser convertido em caixa rapidamente caso as vendas se distribuam ao logo dos trimestres ou, para a São Martinho, também pode ser armazenado em seus tanques, que têm capacidade elevada. Vicchiato lembrou que a companhia possui créditos a receber de PIS e Cofins que poderiam ser liberados para capital de giro caso a companhia maximize a produção de etanol.
Embora o mercado de etanol tenha se tornado mais atrativo para as usinas desde setembro, a tônica desta safra 2017/18 na região Centro-Sul ainda é mais açucareira porque as usinas começaram a temporada com alto volume de açúcar com preços já fixados. Por isso, a oferta brasileira de açúcar ainda foi elevada.
Já com a perspectiva de uma safra mais "alcooleira" em 2018/19, a expectativa dos executivos é de que o enxugamento da oferta brasileira de açúcar no mundo acabe sustentando os preços da commodity. "Se o Brasil fez 36,5 milhões de toneladas de açúcar nesta safra e aparece na próxima com 30 milhões de toneladas, haja produção adicional no resto do mundo para compensar essa queda!", avaliou o CEO da São Martinho. Para Chammas, da Biosev, "a partir do início da safra no Brasil, o mercado toma direções diferentes" (Assessoria de Comunicação, 19/2/18)
Preços para o produtor já começaram a aumentar
O crescimento da demanda doméstica por etanol hidratado da metade de 2017 para cá começou a tirar os preços do etanol dos baixos patamares em que estavam, mas no último trimestre do ano o valor médio recebido pelas usinas continuavam menores que no mesmo período de 2016.
Isso porque, em 2016, as usinas ainda estavam isentas de PIS e Cofins sobre o produto. Em 2017, a alíquota de R$ 0,12 por litro voltou e, em 21 de julho, foi elevada para R$ 0,1309.
Para as usinas de São Paulo, o preço médio recebido entre outubro e dezembro de 2017 foi de R$ 1,6478 o litro, 11,7% abaixo do mesmo período do ano anterior, conforme o indicador Cepea/Esalq.
Além disso, a retomada dos preços no segundo semestre se deu sobre uma base muito baixa, já que a demanda estava fraca e as importações até o início da safra haviam elevado a disponibilidade interna.
A venda do etanol a preços menores afetou o resultado da Raízen Energia, cuja receita com o biocombustível diminuiu 11%, para R$ 1,677 bilhão. Já São Martinho e Biosev compensaram a queda do preço recebido com o aumento dos volumes vendidos.
Entretanto, as perdas não devem se repetir no quarto trimestre desta safra 2017/18 (janeiro a março), uma vez que os preços recebidos pelas usinas já estão superando os do mesmo período da safra passada.
No acumulado deste trimestre (até 16 de fevereiro), o valor médio do indicador Cepea/Esalq para o hidratado nas usinas de São Paulo foi de R$ 1,8409 o litro, 10,7% a mais que a média do quarto trimestre de 2016/17.
A diferença deverá favorecer principalmente as empresas que carregaram etanol em seus estoques para este trimestre, como Raízen e São Martinho (Assessoria de Comunicação, 19/2/18)