Valor das criptomoedas cai 70% desde o pico de janeiro
Frustração com aceitação no comércio, especulação e alta do juro explicam tombo.
O valor de mercado das moedas digitais acumula queda de 70% ante o pico registrado em janeiro, um reflexo das frustrações dos usuários quanto aos avanços modestos que elas conquistaram no comércio.
Na semana passada, pela primeira vez em 2018, o valor de todas as criptomoedas em circulação caiu abaixo dos US$ 200 bilhões (R$ 800 bilhões). Foi o menor desde novembro. Das 100 principais moedas digitais, 98 caíram em um prazo de 24 horas, segundo o CoinMarketCap.
As moedas digitais são meios que permitem a troca de valores online de forma rápida e com baixo custo, sem a necessidade da infraestrutura física das moedas tradicionais e de um centralizador, como um banco central ou uma bandeira de cartão de crédito.
O bitcoin, a mais popular entre elas, circulou abaixo dos US$ 6.000 (R$ 24 mil) pela primeira vez desde junho do ano passado. O ether, a segunda mais usada, recuou 17% em 24 horas.
"Muita gente começou a surtar" e a vender ativos, o que levou outras pessoas a também começarem a vender, disse Kyle Samani, sócio-diretor do fundo de hedge de criptomoedas Multicoin Capital.
Embora as vendas intensas reflitam diversos fatores econômicos e de mercado, muitos usuários dizem que a forte queda nos preços expõe o aparente fracasso do bitcoin e de outras moedas digitais em conquistar aceitação generalizada na economia.
Outra corrente de pessoas acredita que os preços talvez jamais voltem aos picos de janeiro, o que pode gerar uma onda de venda para evitar mais perdas. Produtos financeiros baseados no bitcoin não foram regulados na maior parte dos países.
Além disso, investidores sofreram prejuízos pesados em razão de ataques de hackers e outros incidentes na Ásia.
"As pessoas começam a perceber que geraram a alta dessas moedas em um frenesi de especulação e agora entendem o quanto isso é perigoso", afirmou Mark Grant, chefe e diretor executivo da B. Riley FBR.
A mudança do sentimento básico do mercado foi causada em parte pela alta do dólar, em parte por uma sucessão de aumentos nos juros decretados pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e em parte por um abandono de investimentos menos seguros em países emergentes como a Turquia.
O mercado de criptomoedas é propelidos pelas chamadas "operações de ímpeto", não por fundamentos do mercado. Em 2017, por exemplo, investidores apostaram que elas estavam a ponto de conquistar a aceitação comercial. Produtos e serviços emergiriam, bilhões foram arrecadados no mercado para ofertas públicas iniciais de moedas, e a ideia era que esse movimento atrairia mais interessados. Wall Street e o dinheiro "institucional" correriam para as criptos a fim de abocanhar parte do bolo.
Não foi exatamente o que ocorreu, embora os esforços de aproximação com os mercados convencionais continuem.
Um fundo de bitcoin com cotas negociadas em Bolsa foi rejeitado, em julho, pela SEC (Securities and Exchange Commission), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos EUA.
Além disso, o volume de dinheiro institucional que flui para o setor ainda parece pequeno. Por fim, não há muito o que os detentores de bitcoin, ether e demais moedas digitais possam fazer com elas além de negociá-las em seu próprio nicho. Elas não têm utilidade prática nos mercados tradicionais e no comércio cotidiano.
Por isso, os investidores vêm considerando que boa parte do mercado tem muito de "jogo de azar", como disse Grant.
Em 2017, o mercado de bitcoin oscilou praticamente todos os meses. Em dezembro, a moeda subiu 40% em 40 horas e em seguida caiu 25% em 24 horas. Quedas fortes não são novidade para esse mercado (The Wall Street Journal, 21/8/18)