Venda de máquinas cresce 24% e indústria vai mais otimista à Agrishow

Máquinas agrícolas. Foto: RZK Rental
Por Roseann Kennedy
Coluna do Estadão obteve dados exclusivos do balanço do setor no trimestre; presidente da Abimaq já fala em revisar projeção de crescimento das vendas em 2025 hoje em 8%
A Agrishow, maior feira agropecuária do País, começa hoje com perspectiva positiva para o setor industrial. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), obtidos pela Coluna do Estadão, mostram alta de 24% na receita líquida total de vendas de máquinas e implementos agrícolas em março na comparação com o ano anterior. A soma no trimestre foi de R$15 bilhões.
O balanço será apresentado no evento na próxima quarta-feira. O setor ainda está longe de recuperar o ritmo de vendas de 2022, mas já considera revisar a atual projeção de crescimento de 8%. “A Agrishow será um termômetro para expectativas mais otimistas, que permitirão uma revisão dos números para cima”, diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq.
Base de comparação é fraca
O porcentual foi grande mas não impressiona tanto o setor porque o ano passado foi muito ruim. Na mesma época, em 2024, o faturamento caía na faixa de 36%. O cenário refletia o período de seca muito grande que afetou as principais lavouras do mercado de máquinas agrícolas - soja, milho e cana.
Entretanto, os sinais de retomada e a perspectiva da supersafra em 2025 animam a indústria. Segundo a Abimaq, a agropecuária representa 22% das vendas da indústria nacional de máquinas e equipamentos. “O principal motivador das compras é a rentabilidade da lavoura este ano. Não tivemos seca e houve boa colheita”, observa Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos agrícolas da Abimaq
“As máquinas aumentam a produtividade no campo e favorecem o crescimento da agricultura. Isso impulsiona o setor como um todo e a economia em geral, sustentando novos investimento”, emenda com otimismo o presidente executivo.
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Juros ainda são problema
“O que está pegando este ano é a taxa de juros. A faixa de 18% a 20% ao ano devem enterrar muito negócio”, ressalta Pedro Estevão. “Quando sair o Plano Safra a questão de juros deve ficar amenizada, mas o governo tem posto pouco dinheiro por restrições orçamentárias”, emenda Pedro Estevão (Estadão, 27/4/25)
Com café e laranja em alta, Agrishow projeta recorde de negócios
Imagem Reprodução Facebook
Taxa de juros é apontada como risco para financiamentos na tradicional feira, que chega à 30ª edição em Ribeirão Preto com veto a voos de helicópteros e aviões.
Impulsionada por alguns setores do agronegócio, mas com o mercado receoso em relação às altas taxas de juros, a 30ª edição da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), será aberta neste domingo (27) com a perspectiva de bater recorde de geração de negócios.
Depois de a Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), ter produzido mais de R$ 10 bilhões em intenções de negócios, o otimismo de setores como café, laranja e cana-de-açúcar –principalmente os dois primeiros– cresceu para a feira que é referência para o agro. A previsão de safra recorde de grãos também é um indicativo que os bancos apontam como benéfico.
A abertura neste domingo será restrita a políticos, entidades representativas do agro e do mercado de máquinas e jornalistas. Para o público, os portões da fazenda do governo paulista que abriga a feira desde 1994 serão abertos às 8h desta segunda-feira (27).
Presidente de honra da feira, o empresário Maurilio Biagi Filho afirmou no evento de apresentação da Agrishow deste ano que a previsão de intenções de negócios gerados nos cinco dias de feira é de R$ 15 bilhões, o que significaria um avanço em relação aos R$ 14,3 bilhões de 2024 (valor atualizado pela inflação do período; o valor nominal anunciado foi de R$ 13,6 bilhões).
Se o valor for alcançado, será o maior volume gerado por uma feira agrícola no país. Se depender do apetite dos bancos que estarão na feira, não é um cenário improvável.
O Banco do Brasil informou que estima registrar R$ 3 bilhões em propostas durante a Agrishow, que terminará na sexta-feira (2).
"Em um cenário positivo quanto à expectativa de safra recorde de grãos no país e do crescimento do PIB agropecuário, o BB mantém o bom desempenho nos desembolsos da safra, com previsão de atingir 100% dos recursos equalizados no Plano Safra do governo federal até junho", informou o banco.
Desde o mês passado, o banco fez 177 eventos pré-feira, com o objetivo de amealhar clientes do agro. Nos cinco dias da feira, serão mais de uma centena de funcionários para atendimento aos produtores rurais.
Já no Santander, a intenção é repetir o desempenho dos dois últimos anos, quando o banco fechou R$ 2 bilhões em negócios em Ribeirão, envolvendo agronegócio, contas correntes, consórcios e outras modalidades de crédito.
Nem todos os negócios iniciados na feira são efetivamente fechados, seja por fatores como desistência dos compradores ou restrições cadastrais ou financeiras. Por isso, os valores anunciados são apresentados como expectativas.
Para dirigentes de entidades promotoras da Agrishow, como a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquina e Equipamentos), o que pode segurar as vendas neste ano são as taxas de juros, consideradas altas para quem procura financiamento de maquinário.
Executivos de fabricantes ouvidos pela Folha afirmam que, no cenário atual, quem comprar máquinas e equipamentos agrícolas financiados é porque precisa substituir ou ampliar sua frota com rapidez. Já quem não tem urgência, avaliam, pode esperar até os juros caírem ou comprarem menos equipamentos que a intenção inicial.
O otimismo com a cafeicultura se deve à forte cotação do café –que os consumidores têm sentido no bolso ao fazer compras–, que deixou produtores rurais capitalizados, ao ponto de encurtarem os prazos de seus financiamentos agrícolas.
Isso ocorreu, por exemplo, na Femagri, em Guaxupé (MG). Os financiamentos, antes feitos normalmente em prazos de três ou até cinco safras, passaram a ocorrer em sua maioria em um ou dois anos.
Quem visitar a Agrishow deste ano –são esperados 195 mil pessoas– e já esteve em edições anteriores perceberá uma mudança significativa na fazenda e no seu entorno: a ausência da movimentação de helicópteros e pequenas aeronaves na pista de pouso do local.
A decisão, revelada pela Folha, foi tomada pela organização após um acidente envolvendo um helicóptero no ano passado terminar com uma pessoa morta e uma ferida.
Com isso, quem quiser se deslocar para a Agrishow com aeronaves terá de utilizar o aeródromo Santa Lydia, distante sete quilômetros da feira, nas proximidades de Dumont, município da região metropolitana de Ribeirão Preto (Folha, 27/4/25)