10/02/2020

Vendas de soja do Brasil ganham impulso de câmbio e frete marítimo

Vendas de soja do Brasil ganham impulso de câmbio e frete marítimo

As vendas de soja do Brasil registraram ritmo forte esta semana, com a China, principal compradora da oleaginosa brasileira, aproveitando uma taxa de câmbio favorável e os fretes marítimos em queda, o que reduz custos, segundo agentes do mercado.

Os negócios têm avançado no Brasil, o maior exportador global de soja, apesar de o ritmo de colheita estar levemente abaixo do registrado nos últimos anos, conforme dados de alguns analistas.

“No geral, teve um pouco de atraso de colheita, muita chuva, mas as vendas estão em ritmo forte este ano. Saiu de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas esta semana”, comentou o presidente da negociante de grãos AgriBrasil, Frederico Humberg, sobre os novos negócios efetivados pelo país com a China no período.

Outros agentes do mercado também registraram negócios fortes com soja brasileira esta semana. Em nota na quinta-feira, a consultoria T&F Agroeconômica afirmou que as compras da China totalizaram mais dez carregamentos em três dias na semana.

Segundo Humberg, da AgriBrasil, as preocupações com o impacto econômico do coronavírus reduziram fortemente o valor do frete marítimo, favorecendo compras de chineses.

“Com frete mais barato, melhorou bastante para o comprador chinês”, acrescentou.

O índice de frete do Báltico .BADI, uma referência global, tem acumulado perdas semanais seguidas, sendo negociado nos menores níveis desde 2016.

No que diz respeito à demanda por soja brasileira pela China, o advento do novo coronavírus não causou impacto, segundo agentes consultados, diferentemente do que foi visto em outros mercados, como o de petróleo.

Além disso, um dólar mais forte frente ao real favorece importadores de soja, impulsionando a demanda do grão brasileiro. Nesta sexta-feira, a moeda norte-americana foi negociada a mais de 4,30 reais, batendo mais um recorde histórico.

O executivo da AgriBrasil disse ainda que, à medida que a colheita ganha força, o país vai ficar ainda mais competitivo frente os Estados Unidos, o que tende a impulsionar as exportações.

“Os Estados Unidos estão 15 centavos (de dólar por bushel) mais caros que o Brasil (considerando custo e frete), e cada vez mais vão ficando mais caros, e o Brasil mais dentro da colheita...”, comentou sobre o principal concorrente do país no mercado do grão, que está em entressafra.

Já a colheita de soja do Brasil da safra 2019/20 atingiu até esta sexta-feira 15,7% da área total do país, ante 27,3% registrados no mesmo período de 2019, em meio a chuvas que dificultaram os trabalhos nos campos, avaliou nesta sexta-feira a consultoria Arc Mercosul, que apontou também que a diferença é pequena em relação à média histórica para o período (16,2%).

Paralelamente, a consultoria Safras & Mercado elevou nesta sexta-feira sua previsão de colheita de soja para um recorde de 124,55 milhões de toneladas, citando tempo favorável no Centro-Oeste brasileiro.

PROGRAMAÇÃO FORTE

A programação de navios para embarcar soja nos portos brasileiros está forte, com a agência marítima Cargonave apontando pouco mais de 8 milhões de toneladas neste mês, versus 7 milhões de toneladas na fotografia do agendamentos de embarques no mesmo período do ano passado, quando o Brasil encerrou fevereiro com exportações efetivas de pouco mais de 5 milhões de toneladas.

O professor da Esalq/USP e analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucílio Alves, comentou que nem tudo que está no chamado “lineup” é embarcado no mesmo mês. Ele citou ainda que chuvas recentes podem ter favorecido

Disse ainda que, se a colheita estivesse adiantada, como no ano passado, as vendas das exportações poderiam estar ainda mais fortes.

“Se tivesse volume, o produtor e a própria trading iria embarcar e negociar mais, considerando o câmbio atual.”

Daniely Santos, da Céleres, comentou que o câmbio em alta mais uma vez está ajudando os agricultores brasileiros, minimizando a fraqueza na bolsa de Chicago, que sofre com incertezas relacionadas ao acordo comercial entre China e EUA (Reuters, 7/2/20)