20/07/2018

Venezuela vende petróleo para a China e recebe arroz do Brasil

 Brasil já tem negócios garantidos para a exportação de 1,5 milhão de tonelada de arroz neste ano

País asiático paga óleo aos vizinhos com cereal e beneficia produtor brasileiro.

A Venezuela sempre foi um bom parceiro para o Brasil no setor de agronegócio. A crise econômica e financeira pela qual passa o país, no entanto, quebrou essa cadeia nos anos recentes.

Em 2014, as importações venezuelanas de alimentos brasileiros somavam US$ 2,9 bilhões (R$ 11,3 bilhões), valor que recuou para US$ 289 milhões (R$ 1,2 bilhão) em 2017.

Um produto, porém, reapareceu com força na pauta de exportação brasileira e começa a ganhar espaço na Venezuela em 2018. É o arroz.

As importações do país vizinho somaram 7.759 toneladas deste cereal de janeiro a junho do ano passado. Neste ano, já são 302 mil.

A chave do sucesso para a volta do arroz brasileiro à Venezuela passa pela China.

Tradings internacionais que operam com várias commodities garantem o pagamento do produto brasileiro que é enviado para o país vizinho.

Essas tradings pagam os exportadores do Sul e recebem, em troca, petróleo venezuelano que é enviado para a China.

As vendas estão aquecidas e devem superar 500 mil toneladas neste ano, segundo estimativas do mercado.

Os venezuelanos antes eram abastecidos por arroz dos Estados Unidos.

A crise política entre os dois países, contudo, fez o foco das importações se voltar para a Argentina. As relações entre a Venezuela e o governo Mauricio Macri também se desgastaram, o que permitiu o avanço do Brasil nesse mercado.

A Venezuela tem enfrentado problemas em negociações.

As instituições financeiras estão com dificuldade para fazer transações com o país vizinho, o que teria provocado falta de pagamento, por exemplo, da Eletrobras à estatal de energia da Venezuela, que fornece a luz de Roraima.

A restrição estaria ligada ao embargo dos EUA à Venezuela, que impede operações de bancos com o país, restrição que afeta as instituições brasileiras indiretamente, pelo caráter globalizado do setor financeiro e pelo fato de os repasses serem feitos em dólar.

No agronegócio, a demanda venezuelana pelo arroz é grande. As importações chegam a 1 milhão de tonelada por ano e abrem espaço para o Brasil.

As vendas externas brasileiras são importantes porque ajudam a dar giro ao arroz.

O mercado interno está muito lento e novos destinos podem dar mais competitividade ao setor.

O Brasil já tem negócios garantidos para a exportação de 1,5 milhão de tonelada neste ano, mas o volume poderá chegar a 1,8 milhão, segundo as estimativas mais otimistas do mercado. No primeiro semestre, as vendas somaram 740 mil toneladas.

Internamente, produtores reclamam dos elevados custos de produção e da falta de reação dos preços nos últimos cinco anos. Com isso, as receitas do setor deste ano, descontada a inflação, deverão ser as menores em três décadas.

O valor bruto de produção do cereal recuará para R$ 9 bilhões em 2018, metade do valor de 2004, quando atingiu o recorde de R$ 18 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura.

O Brasil precisa de novas alternativas de mercado porque o arroz vem sofrendo uma acirrada concorrência dos produtores do Mercosul, que têm custo menores.

Essa concorrência tirou muitos agricultores da atividade, principalmente os que estão fora do Rio Grande do Sul, principal produtor do país.

Dificuldades de importações, por causa do valor do dólar, podem ajudar os produtores do Sul a manter uma área de cultivo próxima de 1 milhão de hectares.

A aceleração das exportações brasileiras de arroz para a Venezuela poderão reduzir ainda mais os estoques internos do produto.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima um volume de sobra de safra de apenas 321 toneladas, suficiente para dez dias.

A saca de arroz é negociada a R$ 42, em média, no Rio Grande do Sul, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Os números da Conab para o arroz são: produção de 11,8 milhões de toneladas, consumo de 12 milhões, importação de 1 milhão e exportação de 1,2 milhão (Folha de S.Paulo, 20/7/18)