Web 3.0: o que podemos esperar da futura internet descentralizada?
Por Messari
Confira, na primeira parte de artigo escrito por Mason Nystrom, da Messari, o que é a famosa Internet 3.0 (Imagem: Freepik/vectorpouch)
Basicamente, a Web3 (ou Web 3.0) é a próxima era da internet, uma mudança de paradigma para uma internet mais democratizada.
Web3 se manifesta por meio de novas tecnologias, como criptomoedas, realidade virtual (VR) e aumentada (AR), inteligência artificial (IA) e mais.
Possível graças às novas tecnologias, o movimento da Web3 foi impulsionado por uma mudança em como nós, o coletivo, consideramos e valoramos a internet. Web3 é sobre criar uma internet que funcione para as pessoas e seja comandada por essas pessoas.
Antes, não havia nada; depois, veio a internet
Basicamente, a internet alterou a forma como vemos o mundo como o conhecemos. Essa não é uma declaração controversa. Porém, é importante enfatizar que, por ter sido absurdamente subestimada, a internet mudou tudo.
Pense em um assunto ou tópico com o qual você se importa — seja econômico, político ou social — e, com apenas uma pesquisa no Google, você verá que a internet reformulou ou transformou radicalmente esse assunto.
Econômico
A internet é diretamente responsável pelo surgimento da globalização e do e-commerce — duas tendências que tiveram um profundo impacto no mundo.
Mais especificamente, nos anos de 2017, 2018 e 2019, o setor de Tecnologia da Informação do S&P 500 duplicou em valor e, hoje, o setor de tecnologia totaliza cerca de 25% de todo o índice S&P 500.
Social
Essa parte é bem óbvia, pois até mesmo a palavra “social” possui um novo significado, em comparação há duas décadas.
Antes pequenas startups, agora Facebook, Google, Instagram e Twitter recebem acima de 40% de seus dólares em capital de risco na forma de anúncios pagos por novas startups.
Embora ainda não se saiba qual será o possível impacto futuro de novas plataformas, como o TikTok, é algo bem surpreendente para influenciadores em redes sociais.
Legenda: Ao longo do tempo, a internet continuou “livre”, porém corrompida (Imagem: Pixabay/Wokandapix)
Algoritmos que oferecem notícias escolhidas a dedo, criados para provocar em vez de unir, se tornaram comuns. A internet afetou eleições políticas em todo o mundo, dando origem a uma nova geração de burocratas nativos da internet.
A internet mudou tudo: mercados financeiros, cultura, eleições… Tudo. Existem tão poucas exceções a essa regra que parece ser até uma lei da natureza.
Daqui a uma ou duas décadas, acontecimentos que resultarem ou forem diretamente causados pela internet terão reformulado o mundo diversas vezes. É por isso que o futuro da internet se torna mais importante do que nunca.
Por que precisamos da Web3?
Os primeiros anos da internet foram exploratórios por natureza.
Parecida com a ideologia da Doutrina do Destino Manifesto — a crença de que a expansão dos EUA por continentes americanos era justificável e inevitável —, os primeiros pioneiros de tecnologia sequestraram, cercaram e commoditizaram a internet.
Ao longo do tempo, a internet continuou “livre”, porém corrompida.
Você pode perceber isso em sua vida quando tenta adquirir uma passagem de ônibus, trem ou avião. Todas as suas pesquisas são registradas, vendidas e manipuladas contra você.
A internet está ao seu dispor, mas você não é mestre dela. Pessoas em todo o mundo enfrentam maiores desafios, principalmente em países onde a internet é parcialmente cercada, restrita ou completamente bloqueada.
A principal característica da internet foi a democratização da informação. Porém, hoje, a informação é bem mais duvidosa, isolada e, em alguns momentos, muito prejudicial. Contas falsas controladas por robôs estão manipulando crianças.
Rostos humanos e realistas, criados com inteligência artificial, irão criar ainda mais problemas para a sociedade por meio de “deepfakes” e roubos de identidade.
Contas falsas totalizaram prejuízos econômicos de US$ 70 bilhões em 2019 e a tendência é que aumentem ao longo do tempo. A condição humana pelo viral resultou em vírus digitais — notícias falsas — cuja velocidade é seis vezes mais rápida do que a de notícias verdadeiras.
Essa tendência tem sérias consequências (Money Times, 13/2/21)
Web 3.0: um mundo de protocolos abertos
Por Messari
Legenda: Confira, na segunda parte de artigo escrito por Mason Nystrom, da Messari, as infinidades de serviços possíveis graças à Internet 3.0 (Imagem: Freepik/pikisuperstar)
Um mundo de protocolos abertos
Web3 se refere à rearquitetação de serviços e produtos existentes na internet para que muitas pessoas, e não empresas, se beneficiem.
Embora seja difícil prever o futuro, uma visão de um mundo Web3 é um que possui protocolos de código aberto em seu alicerce enquanto empresas atuam como interfaces que fornecem acesso prático e recursos adicionais.
Web3 é uma internet aberta a todos os usuários, criada em protocolos abertos e redes blockchain transparentes. A forma como clientes interagem com esses protocolos pode ser por meio de aplicações combinadas, que oferecem formas convenientes de interagir com as tecnologias implícitas.
Legenda: A Revolução da Web3 está sendo criada em padrões e protocolos abertos (Imagem: Messari, Tom Shaughnessy, Delphi Digital, Ash Egan)
Dados ainda serão usados para guiar a tomada de decisões, mas não serão usados contra o consumidor. Direitos de dados serão protegidos em vez de violados em busca por lucros. Mecanismo de incentivo e de mercado irão garantir que a informação seja confiável e verificável.
Um mundo Web3 irá priorizar o indivíduo soberano em vez da rica elite e dos caçadores de rendimentos do mundo. A rearquitetação de sistemas e protocolos irá focar na democratização e na descentralização.
Alguns exemplos de Web3
Web3 é mais nascente do que as finanças descentralizadas (DeFi) e, por isso, existem menos exemplos concretos. Porém, assim como as finanças possuem diversas aplicações, como a tomada e concessão de empréstimos, a internet consiste de diversos serviços e componentes.
Legenda: Empresas de Web2 e protocolos de Web3 – protocolos Web3 que querem substituir ou competir com empresas de Web2 (Imagem: Messari)
Serviços de arquitetura de internet
A arquitetura da internet não é algo em que as pessoas costumam pensar. Ou sua internet funciona, trava ou está desligada.
Porém, você provavelmente entende que seu provedor de internet está te enganando, prometendo uma conexão mais rápida ou te cobrando uma fortuna para executar serviços que costumavam ser gratuitos.
Novos serviços, como Andrena e Althea, driblam esses fornecedores de internet ao criar redes comunitárias onde pessoas podem operar e serem pagas ao fornecer internet a membros de sua comunidade.
Por exemplo, um proprietário ou locatário poderia investir em pontos de acesso (“hotspots”) da Andrena para permitir que todos os seus inquilinos entrassem na rede sem fio Andrena e pagasse ao proprietário pelo consumo individual de dados.
Alternadamente, um locatário de apartamentos poderia adquirir um ponto de acesso menor e fornecer acesso à internet suficiente para seus vizinhos e compensar seu consumo pessoal de internet.
Outras redes blockchain, como Handshake, e empresas, como a Unstoppable Domains, visam democratizar o Sistema de Nomes de Domínio (DNS), que mapeia um endereço de IP a um endereço legível, como Messari.io.
O registro de DNS é controlado por organizações como Verisign e ICANN e têm controle unilateral para impor direitos de IP, censurar sites de liberdade de expressão, como o WikiLeaks, e confiscar nomes de domínio (endereços de IP) em um processo injusto.
Embora nem todos esses exemplos de censura sejam negativos, sua natureza subjetiva também é preocupante.
Muitas vezes, os tomadores de decisão em DNS são aqueles nos mais altos cargos governamentais e lobistas das maiores organizações multinacionais, que podem achar que estão fazendo o certo, mas não agem em defesa do interesse das pessoas.
Armazenamento, distribuição e monetização de dados
O Twitter permite que você baixe todos os seus dados. Isso é maravilhoso até você baixar os dados e perceber que você não tem ideia do que fazer com eles. Quer dizer, são seus dados. Você deveria obter percepções sobre eles, né?
O problema é que dados são difíceis de monetizar a nível individual, mas são fáceis de monetizar quando estão em conjunto. Robinhood gerou quase US$ 300 milhões em receita pela venda de dados de fluxo de ordem de clientes no primeiro semestre de 2020.
Dezenas de empresas entendem esse conceito, então é por isso que Snapchat perde dinheiro todos os anos, mas investidores entendem que a empresa possui milhões de usuários da geração Z, que geram dados (possivelmente valiosos).
Legenda: Ocean apresenta um mercado de dados, tokens de dados (“datatokens”) e ofertas iniciais de dados (IDOs) àqueles que precisam utilizar dados confidenciais (Imagem: Medium/Ocean protocol)
Organizações como Ocean Protocol, Streamr e Numerai estão desenvolvendo protocolos que permitem mercados de dados abertos onde qualquer um pode compartilhar e monetizar seus dados. Dados são um componente fundamental de como o valor é armazenado e transferido pela internet.
A commoditização dos dados ainda precisa ser alcançada porque dados são isolados, confidenciais ou pessoais. Novos protocolos Web3 fornecem mercados onde dados confidenciais podem ser compartilhados e dados pessoais podem ser precificados e vendidos de forma adequada.
Transformar dados em ativos de dados tangíveis (tokens) irá desbloquear o valor, desenvolvendo um ecossistema mais robusto de dados.
Outro componente essencial de dados é o armazenamento entre servidores, amplamente controlados por grandes empresas.
Armazenamento descentralizado de dados e serviços de hospedagem de internet como Sia, Arweave e Filecoin estão apoiando a criação de novas aplicações descentralizadas (dapps).
Aplicações e outros serviços de infraestrutura de internet
Legenda: Todos os dias, não nos damos conta das dezenas de serviços tecnológicos que utilizamos; poderemos tomar de volta o controle dos dados que compartilhamos com essas plataformas graças à Web3 (Imagem: Freepik/vectorjuice)
Você usa tantos serviços que nem sequer percebe. Wi-Fi, serviços de localização (GPS), conectividade Bluetooth, serviços de mensagem (iOS, Android), streaming de áudio e vídeo (YouTube, Twitch, Spotify) etc.
Alguns stakeholders controlam essas aplicações. Esses aplicativos usam serviços e infraestrutura que são centralizadas ou controladas por algumas grandes empresas (Google, AWS, Microsoft).
Novos protocolos e empresas, como Helium (rede sem fio e aberta), Foam (serviços de localização aberta), Livepeer (transcodificação e streaming de vídeo), Orchid (redes virtuais privadas e distribuídas) e outros estão desenvolvendo serviços distribuídos e operados pela comunidade.
Esses tipos de serviços são mais baratos porque conseguem evitar intermediários. Por exemplo, YouTube e Twitch não estão satisfeitos com mecanismos de distribuição. As gigantes do streaming fornecem armazenamento de dados “gratuito” para todos os vídeos de criadores de conteúdo.
YouTube e Twitch também ajudam na transcodificação de vídeo para garantir que espectadores possam consumir um vídeo específico no formato exigido. A capacidade de fornecer todos esses serviços ajudam a facilmente integrar produtores de conteúdo em cada plataforma.
Protocolos Web3 podem distribuir o poder de uma única empresa ao separar os serviços que as empresas fornecem aos usuários.
Audius (streaming de música), OurZora (mercado aberto de mídia) e Mirror (plataforma descentralizada de publicação) estão criando plataformas onde usuários têm posse do conteúdo que produzem e têm voz sobre a governança dessas plataformas.
No futuro, criadores de conteúdo poderão armazenar publicamente seus dados de forma separada de onde são consumidos. Embora, hoje em dia, esses serviços sejam menos convenientes, no futuro, serão desenvolvidos nas plataformas que você usa diariamente.
É fácil estar insatisfeito e bravo com as elites corporativas, governos ou qualquer um que manipule a internet para benefício próprio. Embora isso seja compreensível, não achamos que seja o sentimento mais adequado.
Originalmente, a internet precisava de pioneiros e empresas que desenvolvessem ferramentas para torná-la acessível e, por isso, foram adequadamente recompensados.
Conforme o design existente da internet se prolifera, continuamos a abrir mão de nossos dados, nosso tempo e nosso dinheiro a grandes empresas de tecnologia em troca de produtos convenientes que prometem livre acesso.
E, para sermos bem honestos, não existe uma solução que servirá como uma panaceia para todos esses problemas. São precisas inúmeras tentativas, mudanças no comportamento de clientes e inovações tecnológicas.
Conforme nos aproximamos de um mundo cada vez mais controlado pela tecnologia, é vital que desenvolvamos sistemas que alinham incentivos a favor do coletivo.
A transição da atual internet (Web2) para a Web3 é um processo de várias décadas que irá mudar bastante a forma como interagimos com a internet. As decisões e o trabalho sendo feito atualmente será gradual e irá influenciar as gerações futuras.
Assim como a revolução financeira liderada pelas DeFi, a revolução da Web3 é inevitável: irá avançar gradualmente e, depois, avançar de uma só vez (Money Times, 13/2/21)